Jaimildo Vieira - Ataraxia, Felicidade e Epícuro

Ouvi pela primeira vez a palavra ataraxia num dos workshops da minha formação em Análise Bioenergética. A palavra foi proferida pelo instrutor bretão, Jean Marc Guillerme. Fiquei encantado com a fala dele, ao nos sugerir não deixar nada para depois, mas sim fazer o que escolhéssemos fazer no momento em que a idéia surgisse em nossa mente.

Seja lá o que for que quisermos fazer, se o fizermos não nos causará mais preocupação, ao contrário, nos aquietará.

Recentemente, fui novamente tocado pela ataraxia, numa live, com filósofo Amauri Ferreira, que abordou o tema “Como encontrar a potência nos tempos atuais” (período do isolamento social Covid19), com base nas ideias de Epícuro, Spinoza e Nietzsche. Resolvi então incluir a ataraxia nos nossos informes.

Pesquisando um pouco mais, aprendi a origem da palavra que me encantou. E me lembrei de que minhas escolhas não incluiram estudar Filosofia. A minha reflexão aqui é a de um psicólogo clínico pouco dado à acadêmia.

Ataraxia e Aponia

Prazeres Moderados
e Libertação do Medo
(recortes e reflexões)

Epicuro de Samos, filósofo ateniense do século IV a.C, pregava a procura de prazeres moderados. Quando os desejos são exacerbados podem ser fonte de perturbações constantes, dificultando o encontro da felicidade, que seria manter a saúde do corpo e a serenidade do espírito.

O filósofo acreditava que o maior bem era a procura de prazeres moderados de forma a atingir um estado de tranquilidade, chamado de ataraxia, e de libertação do medo, assim como a ausência de sofrimento corporal, conhecida como a aponia. Ambos os estados poderiam ser atingidos por meio do conhecimento do funcionamento do mundo e da consciência da nossa limitação em realizar os desejos. A combinação de ataraxia e aponia constituiria a felicidade na sua forma mais elevada.

Segundo Epicuro, para ser feliz é necessário controlar os nossos medos e desejos de maneira que o estado de prazer se torne estável e equilibrado, com um consequente estado de tranquilidade e de ausência de perturbação.

Ataraxia, em grego antigo, traduz-se por "ausência de inquietude/preocupação", "tranquilidade de ânimo".

Assim como os estoicos, muitos de nós também procuramos a tranquilidade mental, tema muito frequente em nossas sessões de psicoterapia. "Como faço para ser menos ansioso?", pergunta a maioria dos pacientes.

Vale registrar que a ataraxia, na qualidade de "ausência de preocupação", "ausência de paixões", não deve ser confundida com apatia no sentido psicológico, que é caracterizada pela perda da sensibilidade em relação aos estímulos cotidianos.