Julho/2022: Psicologia
Cuidar e Henri Wallon
Teoria do Desenvolvimento Humano
Há algum tempo pensei em falar do Desenvolvimento Humano, em especial das fases ou estágios iniciais do desenvolvimento, conhecidos como infância. Inspira-me a prática psicoterapêutica com crianças, que revela a carência de informação e orientação dos cuidadores, em especial das mães e dos pais.
A intenção deste informe é provocar nos adultos cuidadores, em especial nos que cuidam das crianças, a reflexão sobre a maneira como desempenham sua importante função.
Muitas vezes os cuidadores parecem cuidar
de uma criança idealizada e não da criança real.
Cuidado, acolhimento, proteção e provimento devem estar adequados ao estágio de desenvolvimento da pessoa.
Publicaremos três informes que pretendem apresentar sumariamente as Teorias do Desenvolvimento Humano postuladas por Wallon, Piaget e Freud. O tema é abordado de forma distinta por cada uma das teorias. Deixamos a cargo do leitor integrar as ideias dos três autores, já nos colocando à disposição para colaborar neste processo.
Acreditamos que estas teorias podem ajudar os adultos cuidadores (mães, pais, tios, avós, professores, babás, psicoterapeutas, pediatras, fonoaudiólogos, psiquiatras, entre outros) a se tornarem “suficientemente bons”, em especial, nos seus trabalhos com as crianças.
Desenvolver-se é ser capaz de responder com reações cada vez mais específicas a situações cada vez mais variadas.
Abigail Alvarenga Mahoney
Henri Wallon nos ajuda a compreender a pessoa em sua totalidade: corpo, mente e alma.
Em sua Teoria do Desenvolvimento Humano, Wallon considera os fatores orgânicos e sociais, a individualidade e as relações interpessoais.
Define Estágios do Desenvolvimento:
Aponta Leis Reguladoras para os estágios de desenvolvimento:
Considera os Conjuntos Funcionais: motor, afetivo e cognitivo e a integração funcional entre eles.
Chama a atenção o fato de Wallon considerar que a adolescência é o último estágio de desenvolvimento. Ele não utiliza o termo adulto. Isto nos ajuda a refletir sobre a criança que habita e atua em todo adulto. Também nos faz pensar no período prolongado de adolescência do momento atual.
E nas sessões de psicoterapia ...
Sobre o cuidar
A responsabilidade de cuidar de uma pessoa é mais evidente quando exercemos os papeis de:mãe, pai, médico, professor, treinador, assistente social, segurança, guia, orientador entre outros. É relevante registrar que em todas as relações interpessoais cada um de nós eventual ou frequentemente cuida, acolhe, protege ou provê.
Temos oportunidade de Cuidar em cada Encontro.
Quando abordamos o tema do cuidar em nossas sessões de psicoterapia, estimulo meus pacientes a exercerem o cuidar em cada encontro. Como? Praticando a empatia e a compaixão.
Empatia: ao encontrar alguém, antes de mais nada, volte sua atenção à expressão corporal do outro. Perceba como ele está, como ele se sente. Leve em conta que a percepção é influenciada pelo estado de bem estar do observador e tente confirmar o que percebeu.
Compaixão: acolha (ouça com atenção e interesse, abrace, se mostre disponível) e, quando possível, colabore no que ele estiver precisando no momento.
Ao utilizar a Teoria de Wallon, considerando a pessoa em sua totalidade,o cuidar do outro se torna mais eficaz. Leva em conta não apenas a situação do momento, mas o estágio de desenvolvimento, a pessoa na sua totalidade (corpo, emoção-sentimento, mente, alma) e se a questão é pessoal ou interpessoal.
A Teoria do Desenvolvimento Humano de Henri Wallon facilita a compreensão do indivíduo em sua totalidade e das relações que dão origem a essa totalidade. Mostra uma visão integrada da pessoa.
Henri Wallon nasceu e viveu na França entre 1879 e 1962. Sua trajetória acadêmica revelou sólida formação em filosofia, medicina e psiquiatria, áreas que configuraram seu interesse em psicologia.
Em sua teoria, Wallon aponta para duas ordens de fatores: os fatores orgânicos e os fatores sociais.
Wallon propõe os seguintes estágios do desenvolvimento humano:
Estágio Impulsivo Emocional
Fase Impulsiva (0 a 3 meses)
Predominam atividades que visam à exploração do próprio corpo em relação às sensibilidades internas e externas. É uma atividade global ainda não estruturada, com movimentos bruscos, desordenados de enrijecimento e relaxamento da tensão muscular. Desses movimentos são selecionados os que garantem a aproximação do outro para cuidar da satisfação de necessidades. Os movimentos passam a funcionar como instrumentos expressivos do estados de bem-estar e mal-estar.
Fase Emocional (3 a 12 meses)
Nesta fase, já é possível reconhecer padrões emocionais diferenciados para medo, alegria, raiva, etc. Inicia-se assim o processo de discriminação de formas de se comunicar pelo corpo.
Estágio Sensório-Motor e Projetivo (1 a 3 anos)
Exploração concreta do espaço físico pelo agarrar, segurar, manipular, apontar, sentar, andar etc. É auxiliada pela fala acompanhada por gestos. Inicia-se assim o processo de discriminação entre objetos, separando-os entre si. Prepara não só o afetivo, mas também o cognitivo que vai instrumentalizar a criança para o próximo estágio.
Estágio do Personalismo (3 a 6 anos)
Exploração de si mesmo, como um ser diferente de outros seres, construção da própria subjetividade por meio das atividades de oposição (expulsão do outro) e ao mesmo tempo de sedução (assimilação do outro) e de imitação. Inicia-se assim o processo de discriminação entre o eu e o outro, tarefa central do personalismo. Revela-se no uso insistente de expressões como eu, meu, não, etc.
Estágio Categorial (6 a 11 anos)
Exploração mental do mundo físico, mediante atividades de agrupamento, seriação, classificação, categorização em vários níveis de abstração até chegar ao pensamento categorial. A organização do mundo físico em categorias mais bem definidas possibilita também uma compreensão mais nítida de si mesmo.
Estágio da Puberdade e Adolescência (11 anos em diante)
Exploração de si mesmo como uma identidade autônoma, mediante atividades de confronto, autoafirmação e questionamentos. Ao mesmo tempo que se submete e se apoia nos grupos de pares, contrapõe-se aos valores tal como interpretados pelos adultos com quem convive. Domínio de categorias cognitivas de maior nível de abstração, nas quais a dimensão temporal toma relevo, possibilitando uma discriminação mais clara dos limites de sua autonomia e de sua dependência.
Leis reguladoras dessa sequência
Lei da Alternância de Direções Opostas entre os Estágios:
O movimento predominante é para dentro (para o conhecimento de si): Impulsivo Emocional, Personalismo, Puberdade e Adolescência
Movimento predominante para fora (para o conhecimento do mundo exterior): Sensório-Motor e Projetivo, Categorial
Lei da Alternância de Predomínio de Conjuntos Funcionais:
Motor: Impulsivo Emocional
Afetivo: Personalismo, Puberdade e Adolescência
Cognitivo: Sensório-Motor e Projetivo, Categorial
Lei da Integração Funcional
Relação entre os Conjuntos Funcionais hierarquizados
Essas leis descrevem tanto o movimento do processo de desenvolvimento no seu todo, como nas fases menores dentro de cada estágio.
Conjuntos Funcionais: motor, afetivo e cognitivo
Os conjuntos funcionais revelam-se inicialmente de forma sincrética: o motor, o afetivo e o cognitivo reagem como um todo indiferenciado aos estímulos internos e externos. Aos poucos e exigindo esforço da criança, vão se diferenciando e respondendo de forma cada vez mais precisa, mais clara, mais articulada, mais coordenada, mais adaptada às solicitações do meio e às intenções da criança.
O Conjunto Funcional Motor vai de uma movimentação global do corpo para atividades cada vez mais específicas, mais controladas, mais ajustadas às diferentes situações do meio.
O Conjunto Funcional Afetivo tem origem nas sensibilidades internas (viscerais e musculares) e na sensibilidade ao que vem do exterior. E vai se transformando em sinalizações afetivas cada vez mais específicas de medo, alegria, tranquilidade, raiva etc. Assim, variações musculares vão indicando situações de bem-estar ou de mal-estar.
No Conjunto Funcional Cognitivo, a presença do outro garantirá não só a sobrevivência física, mas também a sobrevivência cultural pela transmissão de valores referentes a técnicas, crenças, ideias e afetos predominantes na cultura. Isto se fará gradualmente por meio dos recursos intelectuais de que a criança dispõe a cada momento. Inicialmente se apresentam de forma nebulosa, global, confusa, sem distinção das relações que as unem. E tendem para categorias, conceitos que se unem por relações claras, precisas, categorias referentes ao mundo externo e referentes a si mesmo, ao tomar consciência de si.
O motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa, embora cada um desses aspectos tenham identidade estrutural e funcional diferenciada, estão tão integrados que cada um é parte constitutiva dos outros. Sua separação se faz necessária apenas para a descrição do processo. Uma das consequências dessa interpretação é de que qualquer atividade humana sempre interfere em todos eles.
Qualquer atividade motora tem ressonâncias afetivas e cognitivas, toda disposição afetiva tem ressonâncias motoras e cognitivas; toda operação mental tem ressonâncias afetivas e motoras. E todas elas têm um amparo no quarto conjunto: a pessoa, que, ao mesmo tempo em que garante essa integração, é resultado dela.
Abigail Alvarenga Mahoney
Referências bibliográficas:
Henry Wallon: psicologia e educação
Abigail Alvarenga Mahoney, Laurinda Ramalho de Almeida (organizadoras) . 11. Ed. – São Paulo : Edições Loyola, 2012
Outros Informes: Psicologia Assessoria de Desempenho Consultoria Empresarial Idéias Inspiradoras
Jaimildo Vieira da Silva - CRP 6/89557
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