Abril/2024  Psicologia/Psicoterapia

 

Emoções que curam e Emoções que nos fazem adoecer

 

 Expressão e Repressão das Emoções

e Psicossomática Reichiana

 

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Neste informe abordamos as emoções e suas relações com a  saúde e vitalidade. Compreender a maneira adequada de lidar com as emoções é uma maneira de cuidar,  ser cuidado e obter uma vida mais saudável e vibrante.

 

A base deste informe é a contribuição de Wilhelm Reich para o desenvolvimento da Psicossomática, levando-se em conta a repressão e expressão das emoções. 

 

Compartilho com vocês as minhas notas da apresentação – live - organizada por Joviniano Resende, no dia 6/2/24, proferida pelos psicoterapeutas Ernani Trotta e Juliana Bezerra, do Núcleo de Psicoterapia Reichiana

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Emoções, Couraça e Auto-regulação na perspectiva Reichiana

 

Emoções são fenômenos de origem Psicossomática. O corpo (Soma), em especial o Sistema Sensorial, percebe o que acontece no ambiente (externo e interno em relação ao próprio corpo) e gera a emoção correspondente, que elicia um movimento, uma ação. A escolha de expressar ou não a emoção depende de nossa dinâmica psíquica (Psico).

 

“Toda emoção se faz acompanhar de um impulso expressivo do corpo.”

 

Antes de perceber a emoção, percebemos alterações no corpo. Podemos sentir a dor de cabeça e nem associar que fomos contrariados e ficamos com raiva.

 

O movimento e/ou a ação associados à emoção podem ser complexos ou tão simples quanto perceber o forte calor e, diante de uma cachoeira, entrar nela para se refrescar. A percepção do calor gera o impulso associado ao desejo de se refrescar, de sentir-se bem diante da situação que se apresenta.


Quando a emoção é reprimida a pessoa não se sente bem e pode adoecer. E quando as emoções desaparecem – a pessoa se torna insensível – a vitalidade do corpo diminui e o tônus também se ausenta, como no caso da melancolia e da apatia.

 

Há muitas expressões verbais populares associadas a emoções reprimidas. Por exemplo: raiva contida pode gerar dor de cabeça. Assim, dizemos que um problema (que nos enraivece) é uma dor de cabeça, um pé no saco ou uma pedra no sapato que nos impede de fazer o que desejamos, de deixar o impulso seguir seu caminho e de mantermos nosso corpo com um bom fluxo de energia. 

 

Quando a emoção gera angústia ou medo, ela pode ser reprimida, por meio da contenção do fluxo de energia e formar couraças. A Couraça cria regiões do corpo onde a energia não flui, podendo vir a gerar patologias (doenças). Couraça é um mecanismo de defesa corporal, que serve para atenuar emoções que possam ser vivenciadas como ameaçadores ao indivíduo.

 

“O medo impede a excitação que nos leva ao prazer.”

 

A vitalidade de uma pessoa é boa quando o fluxo de energia é bom. Neste sentido, a saúde é a capacidade do organismo de descarregar a excitação e a doença aparece quando a descarga não ocorre.

 

Assim, a Terapia Reichiana consiste em liberar os bloqueios energéticos, flexibilizar a couraça e propiciar a expressão da emoção.

 

Emoções chamadas de Positivas

 

Excitação e Alegria: são emoções associadas a estar saudável
 

Emoções chamadas de Negativas

 

Tristeza, Medo e Raiva: são emoções associadas ao adoecimento

 

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Para Reich, toda doença é psicossomática.

 

A psicossomática trata as funções corporais.

 

O repertório do corpo é limitado, os sintomas corporais são sempre os mesmos e conhecidos. Já o repertório psicológico é mais diversificado e evolui com a cultura e a situação em que a pessoa se encontra.

 

A psicossomática busca a emoção e a situação que originou o sintoma. A partir daí chega à causa da patologia. O sintoma indica que o movimento fisiológico saudável não funcionou bem e a emoção foi reprimida, tornando o corpo disfuncional.

Sentir-se Saudável é estar em Movimento indo ao Encontro do que Queremos

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A pessoa saudável tem boa vitalidade e está em movimento na direção do que deseja. É agressiva, vai em busca do que quer. Ser agressiva não é ser hostil ou violenta, mas ter sabedoria para compreender que ter prazer dá trabalho, exige excitação e energia para usufriur do objeto desejado.

 

Os impulsos corporais que geram o movimento em direção ao que queremos, podem ser primários ou secundários.

 

Os impulsos primários são impulsos naturais e afirmativos da vida. Estão associados à sobrevivência, à busca de contato e à busca de prazer. São expressão da nossa agressividade. Por exemplo, o impulso sexual é associado ao prazer (orgasmo) e à vida (procriação).

 

Quando o impulso primário encontra um impedimento ou obstáculo, surgem os impulsos secundários, que visam remover os obstáculos à obtenção do prazer. As emoções hostis estão associadas aos impulsos secundários. Os impulsos secundários geram alívio, mas não geram prazer.

 

Por exemplo, quando o impulso primário de machucar ou bater em alguém é reprimido, ele pode gerar o impulso secundário do sadismo.

 

A cultura contemporânea é muitas vezes permissiva (quase condicionante) em relação aos impulsos secundários. Tal permissividade pode gerar a perversidade. Observamos que os impulsos primários são reprimidos, enquanto os secundários são permitidos.

 

São Exemplos de Permissividade:
 

  •  Criança que bate no coleguinha deve ser punida, a criança que  faz bullying, não.

 

  • Adultos se tornam viciados em satisfação secundária (matches, sexo virtual, pornografia) e reprimem impulsos sexuais primários.

 

  • Beleza associada a dietas restritivas é gatilho para a compulsão alimentar, enquanto a alimentação deveria estar ancorada na auto-regulação (se alimentar para atender a necessidade do corpo - de nutrição e de prazer - e não para atingir um determinado padrão de beleza estabelecido pela cultura).

 

Crianças e Emoções Reprimidas

Relações Parentais e Neurose

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Comecemos citando um trecho do artigo Crianças do Futuro: trabalhando os pais na prevenção de neuroses, de Luciana Garbini De Nadal.

 

“Reich atuou não apenas na clinica individual, mas também tinha um olhar para o social. Ele acreditava em uma sociedade melhor. Se as marcas mais significativas de um ser humano ocorrem na infância, na interação com os cuidadores, conseguiremos prevenir muitos problemas emocionais intervindo precocemente.”

 

“As histórias de vida dos pacientes adultos mostram bem claramente o quanto os primeiros anos de vida são delicados, o quanto pequenas coisas podem se tornar enormes para a criança, pois esta depende dos pais para sobreviver, e qualquer situação que possa significar rejeição, a criança vive como perigo de morte. Fazer terapia é libertar-se do passado, perceber que agora somos “grandes” e podemos fazer escolhas, agir, ir em busca do que precisamos e do que nos faz feliz. Reich deixou um legado de esperança ao mostrar que o natural é ser feliz, estar satisfeito com a vida. Pais que trabalham o autoconhecimento rompem o ciclo de repetições de padrões patológicos transgeracionais, deixando uma herança emocional mais saudável às próximas gerações e, consequentemente, contribuindo para uma sociedade melhor, que era o sonho de Reich.”

 

Da contribuição de Reich para que os adultos sejam “mães, pais ou cuidadores suficientemente bons”, destacamos sua orientação para que estimulem as crianças a realizar seus impulsos primários. Isto é, que zelem para que os impulsos naturais e afirmativos da vida não sejam reprimidas em sua tenra infância.

 

Quando os pais criam um ambiente em que expressão das emoções - todas elas - sejam expressas, as crianças se sentem acolhidas - pelo menos no seu lar - e se tornam livres para agir conforme sua essência (alma, self).

 

Quando as crianças têm alguém que as ajudam a nomear e lidar com o que sentem, elas se tornam adultos menos neuróticos.

 

Em nosso trabalho psicoterapêutico, observamos que, para ser “suficientemente bom”, o adulto cuidador de crianças, precisa necessariamente cuidar muito bem da sua Criança Interior.

E nas sessões de psicoterapia ...

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Conversar sobre as Emoções e a importância de expressar o que elas demandam faz parte do processo de Psicoeducação.

 

É função do psicoterapeuta, em especial do psicoterapeuta corporal, ajudar o paciente a perceber como a expressão das emoções está associada à qualidade da sua saúde. Proporcionando um ambiente sem julgamento, os pacientes são estimulados a expressar o que sentem e podem perceber que a expressão das emoções trazem o desejado bem estar.

 

A Bioenergética desenvolveu um grande número de exercícios corporais que podemos utilizar para manter, reestabelecer e melhorar a saúde.

 

Recomendo a leitura do livro “Exercícios de Bioenergética – O Caminho para uma Vida Vibrante”, escrito por Alexander e Leslie Lowen, que descreve 102 exercícios corporais, desenvolvidos para promover a saúde. Dentre eles, os Exercícios Expressivos servem para ajudar as pessoas a expressar suas emoções, particularmente o Medo e a Raiva.

 

Referência bibliográfica:

 

Lowen Alexander; Exercícios de bioenergética: o caminho para uma saúde vibrante / Alexander Lowen e Leslie Lowen; [tradução de Vera Lúcia Marinho, Suzana Domingues de Castro]. – São Paulo ; Agora, 1985

 

Reich, Wilhelm; A função do orgasmo: problemas econômicos sexuais da energia biológica / Wilhelm Reich; tradução Maria da Glória Novak – São Paulo: Brasiliense, 2012

 

Luciana Garbini. Crianças do futuro: trabalhando os pais na prevenção de neuroses. In: VOLPI, José Henrique; VOLPI, Sandra Mara (Org.) 24º CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS. Anais. Curitiba: Centro Reichiano, 2019. [ISBN – 978-85-69218-04-3]. Disponível em: http://centroreichiano.com.br/anais-dos-congressos-de-psicologia/ - Acessado em: 17/4/2024

 

Reich Wilhelm; Children of the Future: on the prevention of sexual pathology / Wilhelm Reich with translation by Derek and Inge Jordan and Beverly Placzek, Edited by Mary Higgins and Chester M Raphael, M.D. – Preface by Willian Steig – Kindle Library