Jaimildo Vieira - Mais Excitação e Menos Ansiedade em 2022

A Ansiedade foi o tema de destaque nas sessões de psicoterapia em 2020 e 2021, graças à pandemia e suas consequências.

A palavra Ansiedade se consolidou como termo muito presente nas conversas informais, na mídia e nos debates das mais diversas naturezas.

Nossa proposta para o futuro próximo, o ano de 2022, é considerá-lo de duas maneiras distintas: uma que anseia por coisas boas, a Excitação, e outra que anseia por coisas ruins, a Ansiedade.

Em nossas sessões de psicoterapia, denominamos Excitação ao estado emocional, que nos faz agitados e motivados a buscar a alegria e o prazer (não apenas o sexual); e denominamos Ansiedade ao estado emocional, que nos coloca em Estado de Alerta, preparando nosso corpo para enfrentar um perigo imaginado, como se fôssemos um carro de corrida pronto para a largada, só que o sinal de largada não é acionado.

É comum notarmos a falta de distinção entre Excitação e Ansiedade. Ambas têm em comum o desejo de prever o futuro, a busca de controle, o otimismo e o pessimismo associados às experiências vividas e a sensação de insegurança. E todos estes aspectos têm relação com a nossa autoestima, autoconfiança e fé. Notamos também que a sensação de incerteza em obter o prazer desejado se assemelha à sensação de expectativa de sofrer um dano futuro.

Costumo dizer que a Ansiedade (e não a Excitação) é prima do medo, a emoção que zela pela nossa sobrevivência. O medo nos faz atentos aos perigos, para que não sejamos pegos de surpresa e venhamos a sofrer danos: pequenos, grandes ou, até mesmo a morte. A partir do medo e do entendimento do perigo, escolhemos Lutar ou Fugir. A prima Ansiedade nos paralisa, deixando-nos à mercê do perigo. Podemos nos tornar inseguros e indecisos, pois não podemos lutar ou fugir de um perigo imaginado, podemos apenas ficar em Estado de Alerta.

Quando um perigo imaginado ou provável domina nossa mente, ficamos fixados a um pensamento obsessivo, com enorme dificuldade de nos livrar dele. Sem sucesso, tentamos intensa e frustantemente resolver a questão. Acabamos estressados e cansados, sem energia para outras atividades.

O Transtorno de Ansiedade decorre do estado emocional de Ansiedade que permanece por muito tempo, e pode se tornar uma das características de nossa dinâmica psíquica. Sob seu domínio, ficamos imobilizados e a energia é quase toda consumida por pensamentos obsessivos, impedindo que coloquemos nossa atenção em qualquer outra coisa. Nosso desempenho diminui significativamente e podemos nos tornar disfuncionais.

O que fazer então com a Ansiedade e com a Excitação?

Quando a Excitação aparece nos sentimos animados, motivados, às vezes eufóricos. Ela nos cobra a realização do desejo. Devemos então priorizar as atividades que nos levam à realização do desejo, usar nossa energia para obter prazer e alegria.

Quando a Ansiedade nos invade, nosso corpo entra em Estado de Alerta (respiração encurtada, taquicardia, sudorese, sangue concentrado no interior do corpo, contração muscular, prontidão para agir). Para sair deste estado, precisamos colocar o corpo em movimento: mandar embora a preocupação (mental) e praticar a ocupação (corporal). Para diminuir ou eliminar a Ansiedade, a melhor terapêutica é colocar o corpo em movimento. Vale registrar que, ninguém terá uma crise de ansiedade se estiver correndo.

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino.
Ela dormindo encantada.
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.

E, inda tonto do que houvera,
A cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

Texto extraído do DSM V
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - 5ª Edição

Os transtornos de ansiedade incluem transtornos que compartilham características de medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relacionados. Medo é a resposta emocional à ameaça iminente real ou percebida, enquanto ansiedade é a antecipação de ameaça futura. Obviamente, esses dois estados se sobrepõem, mas também se diferenciam, com o medo sendo com mais frequência associado a períodos de excitabilidade autonômica aumentada, necessária para luta ou fuga, pensamentos de perigo imediato e comportamentos de fuga, e a ansiedade sendo mais frequentemente associada a tensão muscular e vigilância em preparação para perigo futuro e comportamentos de cautela ou esquiva. Às vezes, o nível de medo ou ansiedade é reduzido por comportamentos constantes de esquiva. Os ataques de pânico se destacam dentro dos transtornos de ansiedade como um tipo particular de resposta ao medo. Não estão limitados aos transtornos de ansiedade e também podem ser vistos em outros transtornos mentais.

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