Maio/2025 Psicologia/Psicoterapia
O Caso Borboleta Azul
Hérnia de Disco Lombar Extrusa
e Leucemia Mieloide Aguda
"A Doença como Caminho"
Sou o psicoterapeuta da Borboleta Azul desde Novembro/2015. Iniciamos o processo psicoterapêutico quando ela se apresentou, acompanhada de sua família. Desde que as sessões de psicoterapia familiar foram interrompidas Borboleta Azul continua em psicoterapia individual.
Quando compartilhou comigo as fotos do seu trabalho de artesanato, Borboleta Azul estava muito feliz por finalmente dar vazão à sua criatividade e compartilhar a expressão da sua alma. Seu artesanato me estimulou a convidá-la a divulgar parte de sua história.
Maria aceitou o convite e escreveu o texto “Sobre Viver”.
Ao ler seu texto, a convidei também para uma entrevista.
Seu texto e a transcrição de sua entrevista compõem a parte principal deste informe. Borboleta Azul é o nome fictício que ela escolheu.
Gentilmente me autorizou a publicar seu texto e a transcrição da entrevista que me concedeu.
Tomamos os devidos cuidados para manter a confidencialidade e sigilo da Borboleta Azul, conforme determina o Código de Ética do Profissional Psicólogo, na Resolução CFP 010 de 2005, em seu Artigo 9º, que diz:
“É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional.”
Sobre Viver
por Borboleta Azul
Nosso corpo é uma máquina complexa, mas maravilhosa. Cada célula que possuímos é importante e compõe uma rede de engrenagens que devem funcionar em sintonia.
Às vezes na correria do dia a dia não encontramos tempo para “escutar” o que ele quer nos dizer. Neste caso, quando ignoramos alguns sinais e acabamos por negligenciar nossa saúde, as consequências não tardam.
Faço terapia há muitos anos e sem dúvida já aprendi muito sobre mim, mas sinto que ainda há muito a aprender.
Nos últimos 6 anos fui submetida a duas intervenções cirúrgicas na coluna devidas a uma Hérnia de Disco Lombar Extrusa, em Junho/2018 e em Dezembro/2019. E descobri uma Leucemia Mieloide Aguda em Agosto/2022. Em ambos os casos apareceram alguns sinais de que algo não ia bem.
No caso da Hérnia sentia fortes dores na coluna, dormência na perna e dedos dos pés. Mas como estava muito empenhada em dar continuidade às minhas atividades de liderança em uma grande empresa, com carga horária de 12 a 13 horas por dia, deixei de ouvir os alertas do meu corpo, e para solucionar o problema só coube uma alternativa: 6 pinos para fixação das vertebras.
Voltei para minhas atividades 3 meses depois, supondo que havia resolvido. A questão é que como não houve cicatrização suficiente, fui submetida ao segundo procedimento para refazer a primeira cirurgia, já com a programação de enxertar uma parte do osso da bacia na tentativa de que não houvesse nova ruptura. Foram tempos difíceis e de recuperação demorada.
Nesta ocasião tentei ser mais generosa comigo mesma e perceber o que era adequado e o que não era. Tornei-me mais atenta para filtrar e fazer as coisas de maneira mais leve, menos sofrida. Sinto um pouco de dor ainda, mas não como antes, com certeza.
Já no caso da Leucemia os sinais vieram através de um abcesso na perna e manchas roxas. Confesso que fui ao Pronto Socorro na tentativa de conseguir que drenassem o abcesso e mostrei as manchas roxas por acaso, dizendo que provavelmente seriam decorrentes de algum esbarrão nos móveis, mas minha filha cobrou que eu falasse. Graças à insistência dela a descoberta foi feita. Foram 7 dias na UTI, diversos hemogramas, um mielograma e o diagnóstico chegou: LMA (Leocemia Mieloide Aguda). E com a LMA, vieram Quimioterapia, Radioterapia (TBI), uma infinidade de medicamentos, cuidados médicos, sintomas ruins, medo, efeitos colaterais.
O carinho da família e amigos, a competência médica e hospitalar, a paciência (tive que triplicar), a vontade de viver, a fé, a terapia e a medula doada pelo meu filho salvaram minha vida. É isso, ele nasceu de mim e eu RENASCI dele. Meu transplante foi em 11 de Maio de 2023, estou em remissão.
Passei a olhar o mundo, as oportunidades, a vida ... tudo com mais leveza. Me sinto tão viva quanto antes mas com certeza muito mais leve.
Aprendi que o presente é este instante e não há privilégio maior do que este.
Hoje eu crio oportunidades de viver melhor e mais feliz. Saí do casulo para alçar voo.
Sobre Viver ... entrevistando Borboleta Azul
Jaimildo: Conte-nos um pouco sobre a psicoterapia corporal. O que ela lhe ensinou sobre seu corpo?
Borboleta Azul: A princípio os incômodos podem surgir de formas variadas (dores são um sinalizador). Quando fazemos uma pausa conseguimos perceber quais são os desconfortos que nosso corpo sinaliza. Desse modo podemos encontrar uma forma de diminuir estas sensações de diversas maneiras: leituras, caminhadas, condicionamento físico ou qualquer atividade que possa proporcionar bem estar físico e mental.
Jaimildo: Como se deu o processo de você “escutar” mais o que o seu corpo quis lhe dizer?
Borboleta Azul: Dando mais atenção aos sinais de anormalidade, reservando um tempo para perceber como está a conexão entre a minha mente e o que estou sentindo naquele momento, desacelerando os pensamentos e respirando mais pausadamente.
Jaimildo: Depois de ter passado por 6 anos de tratamentos intensivos (coluna e leucemia), ao refletir sobre esta experiência, quais foram os sinais prévios – antes do tratamento - que seu corpo lhe deu, mas que você deixou de escutar?
Borboleta Azul: Não dei a devida importância para náuseas, manchas rochas nas pernas, cansaço físico, emagrecimento rápido. Todos estes, a meu ver, eram consequência de uma rotina na qual eu estava inserida e habituada. Logo, não admitia que era preciso mudar meu comportamento para viver de maneira mais leve e adequada.
Jaimildo: Para manter o emprego, o ambiente corporativo cobra “mais e melhor sempre”. Ser obrigado a manter a “aceleração constante” contraria as Leis Fundamentais da Física Newtoniana. O corpo em aceleração constante vai entrar em combustão: o Burnout. A partir da sua experiência de “estar muito empenhada em dar continuidade às suas atividades em uma grande empresa”, que orientação você daria à você mesma se pudesse voltar ao tempo em que começou sua carreira?
Borboleta Azul: É preciso admitir que a saúde física e mental são os princípios básicos de uma vida prazerosa/plena. Sem estes não existem entregas corporativas satisfatórias. Temos que dividir nossos objetivos em pequenos passos, mas o passo principal é cuidar bem de sí!
Jaimildo: Há cicatrizes corporais e cicatrizes psicológicas. Ambas requerem tempo de recuperação. Elas nos cobram uma nova maneira de lidar com a vida. O que você diria às pessoas que estão em processo de cicatrização e remissão?
Maria: Observe suas cicatrizes com amor, cada uma delas conta uma história, um momento da sua vida, um aprendizado para continuidade do seu processo de evolução. Nem todos conseguem aproveitar essa oportunidade para curar-se e mudar a forma de apreciar a vida.
Jaimildo: Considerando o seu processo de cura, ao que você passou a dar mais atenção e como é este filtro que torna a vida mais leve e menos sofrida?
Borboleta Azul: Hoje dou mais atenção a mim mesma, e não reconheço isto como um comportamento egoísta, mas lúcido com certeza, pois através dele consigo perceber quais são minhas necessidades e tratar-me com mais respeito. Procuro não assumir o que não me pertence.
Jaimildo: O abcesso e as manchas roxas foram sinais corporais “a serem escutados”. Eles apontaram a Leocemia: o perigo que colocou a sua vida em risco. Você nos contou que teve medo. As reações saudáveis para o medo são Lutar ou Fugir. Você escolheu lutar. Como você chegou a esta escolha?
Borboleta Azul: Existem dois caminhos quando nos deparamos com uma descoberta desta: ou você se entrega ao quadro clínico e fica com pena de si, ou você se informa com os médicos em qual estágio está, o que será feito (tratamentos e medicamentos), quais são as possibilidades reais e qual seu papel neste processo e segue firme no propósito de sobreviver em meio ao caos. O medo estará presente, é fato, mas a esperança, paciência e fé devem tornar-se maior do que ele.
Jaimildo: Você relata que sua vida foi salva graças ao carinho da família e dos amigos, à competência médica e hospitalar, à sua paciência triplicada, à sua vontade de viver, à sua fé, à psicoterapia e à medula doada por seu filho. Você é uma prova de que o processo de cura é sistêmico, multidisciplinar e associado à motivação, ao sistema de crenças, à rede de apoio das pessoas que nos amam e aos profissionais de saúde que atuam neste processo. Em especial, seu filho lhe doou a medula: “ele nasceu de mim e eu renasci dele”. Como é renascer do seu filho?
Borboleta Azul: As conexões que se estabelecem entre uma mãe e seu filho(a) a partir da gestação são inexplicáveis. Os sentimentos assumem proporções que não conseguimos mensurar e eles estão presentes de diversas formas: amor, proteção, educação, disciplina, dentre muitos outros. O fato do meu filho testar compatível (50%) e se dispor a doar com tamanha coragem e amor demonstra que ao longo dos anos ele conseguiu trazer à tona percepções que teve desde a infância. Renascer a partir da generosidade de um filho é difícil explicar com palavras, o sentimento de gratidão e amor falam por si.
Jaimildo: Você começou uma nova vida profissional e já está produzindo artesanato. Seu trabalho inspirou e ilustra este informe, em especial, a borboleta que você utiliza em seus trabalhos. Em que casulo você estava e como é alçar voo a partir de sua própria história?
Borboleta Azul: É inexplicável o misto de sentimentos que surgem dia a dia após todo esse longo processo de cura. O que permanece é a vontade de viver bem e melhor, redescobrindo a importância do que fazemos com o tempo que temos. O que é prioridade e o que pode esperar. Esse processo criativo sempre esteve presente na minha vida, mas fazendo parte do mundo corporativo a falta de tempo não colaborava para desenvolvê-lo. Aprendi que muitas oportunidades nós criamos a partir dos nossos desejos e atitudes.
Jaimildo: Considerando seu processo psicoterapêutico, o que ainda você tem a aprender e praticar?
Borboleta Azul: Refinar ainda mais a paciência, culpar-me e cobrar-me menos, não criar expectativas em relação ao comportamento do outro, ser mais generosa e afetuosa comigo mesma.
"A Doença Como Caminho"
A Doença como Caminho é o título do livro de Thorwald Dethlefsen e Rúdiger Dahlke. O processo psicoterapêutico da Borboleta Azul leva em conta os conceitos de doença, sintoma e cura propostos neste livro.
Segue uma descrição sumária destes conceitos, extraídos do capítulo Condições Teóricas para a Compreensão da Doença, dos Sintomas e da Cura da Doença. São transcrições editadas e adequadas ao propósito deste informe.
“ ...
A palavra doença significa a perda de um estado de harmonia, ou ainda, a perturbação de uma ordem que estava mantida em equilíbrio até então.
A perda de harmonia produz-se ao nível da consciência – no plano da informação – e no corpo ela apenas se mostra. O corpo é o veículo da manifestação de todos os processos que se produzem na consciência.
Quando uma pessoa padece de um desequilíbrio na consciência, ele se manifesta no corpo, sob a forma de sintoma.
É o Ser Humano – a consciência de ser - que está doente, mesmo que esse estado de doença se manifeste no corpo como um sintoma.
Na apresentação de uma peça teatral, não é o cenário que é trágico, mas sim a obra representada.
Há muitos sintomas. Todos eles, porém, são expressões de um processo único e invariável a que chamamos doença e que se produz sempre na consciência do indivíduo. Sem a consciência, portanto, o corpo jamais pode viver ou adoecer.
Quando um sintoma se manifesta no corpo de uma pessoa, ele chama a atenção, interrompendo a continuidade da sua rotina, muitas vezes de uma forma repentina e brusca. O sintoma é um sinal que atrai a atenção, altera o interesse e consome boa parte da nossaa energia. Impede o curso normal da vida. Exige plena atenção, quer o queiramos quer não. Essa situação produz em nós um mal-estar e, a partir desse instante, o nosso objetivo passa a ser apenas um: eliminar o mal-estar.
O Ser Humano detesta ser incomodado, e é esse mal-estar que faz disparar a luta contra o sintoma. Esta luta exige atenção e dedicação. O sintoma sempre consegue que fiquemos dependentes dele.
Para nós, Seres Dotados de Alma, o sintoma mostra que estamos doentes, que perdemos o equilíbrio das forças da alma. O sintoma nos informa que falta algo. Acusa um defeito, uma falha.
A consciência percebe que para permanecermos sadios há algo que está faltando. É essa carência que se manifesta no corpo como um sintoma.
Quando o indivíduo compreende a diferença entre a doença e o sintoma, a sua atitude básica e a sua relação com a doença se modificam rapidamente. O sintoma deixa de ser o grande inimigo e passa a ser um aliado, que poderá ajudar a encontrar aquilo que falta para vencer a doença.
Assim, o sintoma será o Mestre que nos ajuda a ficar atentos ao nosso desenvolvimento e autoconhecimento, um Mestre severo que será duro conosco se nos negarmos a aprender a lição mais importante: a doença não tem outro objetivo que não o de nos ajudar a reparar as nossas carências e a nos tornar saudáveis.
Cura significa redenção - a remissão dos sintomas. A cura é conseguida quando incorporamos aquilo que falta. E isso não é possível sem uma expansão da consciência.
...”
E nas sessões de psicoterapia ...
... estimulamos os pacientes a associar sintomas a doenças:
O que será que está provocando sua dor de cabeça?
Está com dor de cabeça agora? Que tal respirar lenta e profundamente? Experimente e perceba que a intensidade da dor de cabeça se modifica ... muitas vezes até desaparece apenas com uma boa respiração.
Em que situação sua dor de cabeça aparece?
Já percebeu que muitas vezes ela desaparece quando você está fazendo algo agradável?
Quantas doenças você conhece que estão associadas à dor de cabeça?
A psicoterapia corporal nos ensina a estar atentos aos sintomas (signos, sinais) apontados pelo nosso corpo. É o que Borboleta Azul chamou de “escutar” o corpo.
Como dizem Dethlefsen e Dahlke, “O Ser Humano detesta ser incomodado”. Queremos eliminar logo o sintoma, por exemplo, tomando um analgésico. É como se escutássemos o sintoma (signo) como um ruído (que perturba nossa harmonia), sem entender (dar significado) a mensagem contida nele e menosprezando o que o corpo nos aponta.
Quando eliminamos o sintoma sem compreender a doença, deixamos de satisfazer a demanda do corpo e mantemos a carência do que nos tornaria saudáveis.
Referência bibliográfica:
Dahlke, Rüdiger e Dethlefsen, Thorwald; A Doença Como Caminho: uma visão nova da cura como ponto de mutação em que um mal se deixa transformar em bem – São Paulo ; Cultrix; 1a. Edição; 1992
Dahlke, Rüdiger; A Doença Como Linguagem da Alma – São Paulo ; Cultrix; 1a. Edição; 1999
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