Fevereiro/2024 Psicologia/Psicoterapia
O Menino que tinha medo de Errar
Uma referência para o processo psicoterapêutico do adulto em que este menino se tornou.
Inspirado no ivro de Andrea Viviana Taubman.
Baby me encaminhou o livro que deu o título a este informe. Inúmeras vezes conversamos sobre questões psicológicas das crianças que atendo e observo. Baby é uma experiente professora de Educação Física, especialista em Psicomotricidade, muito querida por seus alunos do Ensino Fundamental, minha supervisora e mentora para os temas do psiquismo infantil e minha amada mulher.
Assim que li a estória de Pedro, O Menino que tinha Medo de Errar, a escolhi como tema para este informe.
Jovens, adultos e idosos buscam a psicoterapia porque não tiveram a sorte de serem visitados pela Fada das Crianças que têm Medo de Errar. Eles se tornaram adultos com demandas psicoterapêuticas de ansiedade, baixa autoestima, procrastinação, fobia social, timidez excessiva, retraimento e isolamento social.
Em seu livro, Andrea Taubman mostra que os cuidadores destes meninos e meninas podem utilizar a varinha de condão da Fada das Crianças que têm Medo de Errar. Assim como aconteceu com Pedro, as crianças seriam mais saudáveis e lidariam melhor com qualquer desafio que a vida lhes trouxesse, se tivessem viajado no Foguete da Fada.
O Medo de Errar
O livro trata de dois aspectos da natureza humana: cometer erros e enganos.
Combinando as ideias do livro com a citação de Einstein, podemos concluir que quem tenta fazer algo novo, algo que ainda ainda não foi aprendido, deve levar em conta que cometer erros e enganos é natural.
Porém, na nossa cultura, errar está associado ao fracasso. E o Medo de Errar aparece porque não queremos fracassar.
A criança que tem Medo de Errar teme o constrangimento e a punição. Além dos temores da sua criança interior, o adulto que tem Medo de Errar teme o fracasso e, consequentemente, pode se tornar um procrastinador.
O Medo de Errar e nossas Escolhas
Fazemos escolhas o tempo todo, desde escolhas rotineiras, como a roupa a vestir, até escolhas que vão mudar significicativamente a nossa vida, como aceitar ou não uma nova oportunidade de trabalho ou de casamento.
O Medo de Errar aponta o perigo do fracasso. Ele perturba, desorganiza e atrapalha o processo de escolha. É inimigo das decisões. É também um medo que nos faz imaginar possíveis constrangimentos e punições.
Toda escolha gera consequências, que só serão conhecidas depois. É parte do processo de escolha, levar em conta as possibilidades de arcar com consequências danosas, como constrangimento perante o grupo a que pertencemos e o sentimento de fracasso e inferioridade.
O Medo de Errar é uma emoção, que faz parte do processo de escolha. Como devemos proceder então? Devemos fazer escolhas de forma racional ou de forma emocional? Este é um tema polêmico.
Damasio, em seu livro, O erro de Descartes, postula que "não existe razão sem emoção". E a emoção depende do nosso sistema sensorial, da nossa sensibilidade. Proponho considerar a racionalidade, a sensibilidade e a emoção como componentes fundamentais do processo de escolha.
O Medo de Errar e o ambiente
O Medo de Errar pode ser mais ou menos intenso e paralisante de acordo com o ambiente em que atuamos.
São exemplos de situações onde o Medo de Errar é intenso:
Crianças podem ter pais demasiadamente exigentes e severos. O mesmo vale para seus professores e outros adultos que fazem parte do processo de “educação” e desenvolvimento e tornam a criança insegura.
Adolescentes podem ser considerados Aborrecentes para muitos adultos e também nerdes/bocós/babacas para muitos dos seus colegas.
Adultos devem produzir mais e melhores resultados, o que é sabidamente inviável. Devem suportar o alto nível de estresse. Ter um maior e melhor desempenho constantemente não combina com a natureza humana de errar e se enganar.
Relações Abusivas tornam temerosas as pessoas que se submetem ao desejo perverso do parceiro de quem dependem afetiva e/ou financeiramente.
Percamos o Medo de Errar
Gostaríamos que fosse divina,
mas a nossa natureza é humana.
Erramos e/ou acertamos o tempo todo.
Temos uma boa saúde e muito mais bem estar quando sabemos e aceitamos que, seja lá o que fizermos, nossas ações podem nos levar ao sucesso e/ou ao fracasso.
Perder o Medo de Errar é perder o medo do julgamento alheio; é agir sem buscar o perfeccionismo; é não se comparar às outras pessoas; é ter boa autoestima e é estar de bem com a própria singularidade.
E nas sessões de Psicoterapia ...
Procuro ser a Fada dos Pacientes que têm Medo de Errar. O foguete de que disponho é o Processo Psicoterapêutico. Estimulo o paciente a entrar no foguete e juntos pilotá-lo. A primeira parada seria no Planeta Inabitado da Perfeição. A segunda seria no Planeta dos Recursos para enfrentar os perigos apontados pelo Medo de Errar.
Os pacientes manifestam o Medo de Errar em suas falas. Seguem alguns exemplos:
Sobre o julgamento alheio: “Já tentei fazer isso, mas meu pai ficou uma fera comigo. Disse que se eu insistisse nesta escolha, eu o decepcionaria tanto que ele me deserdaria.”
Sobre relacionamentos abusivos: “O namoro foi ótimo até que resolvemos morar juntos. Ele se transformou. Começou a controlar tudo que eu fazia. Queria mesmo uma Amélia. Está cada vez pior. Não sei mais como agradá-lo. Tudo o que faço é criticado. Acho que estou com depressão. Vai ver ... ele tem razão.”
Sobre patologias: “Disseram-me para ir ao médico, mas é só uma dorzinha. Dá e passa. Será que posso confiar no sistema de saúde? Na última consulta, o médico me receitou um remédio que, além de não resolver, me deixou com outros sintomas.”
Sobre o Vestibular: “Estou fazendo cursinho. Não tenho muita vontade de estudar, porque não sei ainda que faculdade quero fazer. Meus pais querem que eu seja advogado, mas eu quero mesmo é ser um artista de teatro. Eles dizem que isso é uma ilusão e que eu preciso mesmo é de uma profissão decente. Eu faço eles pensarem que estão certos, mas não consigo me dedicar a nada.”
Sobre a faculdade: “Acho que vou desistir. Estudar e fazer as provas não são o problema. O que eu não consigo é fazer a apresentação dos trabalhos. Falar em público eu não consigo. Travo e parece que vou desmaiar.”
Sobre o trabalho: “Não aguento mais. O ambiente está muito pesado. Meu chefe exige cada vez mais. Sinto-me explorado. E ele nem cumpriu a sua promessa de me promover. Nem mesmo me deu um aumento de salário. Há mais de dois anos estou nesta situação. Estou pensando em procurar um novo trabalho.”
Sobre dirigir seu carro: “Faz 2 anos que meu carro está na garagem. Meu irmão o utiliza para que o carro não fique emperrado. Já estou no terceiro curso de direção para habilitados, mas, só de pensar em dirigir meu carro, enfrentar este trânsito superperigoso, já fico muito ansioso. Prefiro pegar um taxi.”
Referência bibliográfica:
O Menino que tinha Medo de Errar
Livro de Andrea Viviana Taubman
Reprodução da página do site Tuxdoc, acessada em 17 de fevereiro de 2024.
O menino que tinha medo de errar
Andrea Viviana Taubman; ilustrações Camila Carrosine. 1a. ed - Rio de Janeiro: Editora Fina, 2012
O erro de Descartes - Emoção, Razão e o Cérebro Humano
Antônio R Damásio tradução portuguesa Dora Vicente e Georgina Segurado — São Paulo Companhia das Letras 1996
Outros Informes: Psicologia Assessoria de Desempenho Consultoria Empresarial Idéias Inspiradoras