Jaimildo Vieira - Percepção

A Percepção que temos do ambiente interno (nosso próprio corpo) e externo (lugar em que estamos) não é perfeita e é diferente da Percepção de qualquer outra pessoa.

Compreender como percebemos o mundo é fundamental para entender a dinâmica psicológica. A Percepção que temos de nós mesmos, do mundo e das pessoas influencia a compreensão de tudo e de todos.

Neste informe abordamos algumas bases sensoriais da Percepção, a maneira como desenvolvemos ideias, conceitos e preconceitos, e como a nossa Percepção está associada à qualidade das relações interpessoais.

Bases sensoriais da Percepção

Percebemos o mundo que nos cerca através dos órgãos sensoriais.

“Não somos capazes de ouvir sons de alta frequência como os morcegos e os cães; não conseguimos ver o ultravioleta, como as formigas, as abelhas e outros insetos; não percebemos campos elétricos ou magnéticos, como o fazem os peixes elétricos e algumas aves migratórias; tampouco conseguimos sentir o cheiro deixado pelo corpo de uma outra pessoa, fato corriqueiro na vida dos cães.”

A maioria das pessoas acredita que o ser humano possui cinco sentidos: visão, audição, tato, olfação e gustação. Alguns adicionam um sexto sentido, de função não muito clara e enigmática. Poucos acrescentam o sentido cinestésico ou vestibular. Muito raramente mencionam o sentido orgânico, que fornece informações sobre hidratação (sede), nutrição (fome), condição hormonal (gênero) e oxigenação (ar). Vale lembrar que a visão não é um sentido apenas, por compreender a visão de cores, de formas e de movimentos, entre outros.

Na Psicologia da Percepção, qualquer evento passível de ser captado pelo nosso sistema sensorial é chamado de Estímulo. Nossas ações dependem da maneira como percebemos cada um dos estímulos. É importante citar que as condições físicas e orgânicas do nosso corpo, bem como nosso estado de humor, influenciam a maneira de perceber o que está acontecendo: o lugar, os objetos, as pessoas e a energia que flue entre todos estes estímulos.

A Atenção Seletiva determina o que percebemos

A Atenção é a função mental que atua diretamente sobre nossa capacidade de perceber.

Num determinado instante só conseguimos dar atenção a um número limitado de estímulos. Não temos a capacidade de “prestar atenção” a todos os estímulos que o nosso sistema sensorial capta.

Os estímulos captados passam por um processo seletivo e são encaminhados a outra função mental, o Processamento.

Em conjunto com a função mental Memória, o Processamento elabora um significado, faz o “arquivamento” da ideia associada ao Estímulo e comanda a reação que deveríamos ter.

Atenção Seletiva é o nome que damos a este processo.

Entendendo a Atenção Seletiva, podemos compreender que a Realidade que percebemos é um recorte, uma parte da experiência ou da vivência do que aconteceu.

Acredito que os termos Real e Virtual sejam familiares. O termo Digitalizado, porém, deve ter causado alguma estranheza. O utilizamos aqui no lugar de digital.

Em termos psicológicos, os três "mundos" são muito importantes e fazem parte da elaboração das nossas ideias, conceitos e preconceitos.

Neste informe, consideramos Mundo Real, o mundo concreto e objetivo percebido por intermédio da Atenção Seletiva. O Mundo Digitalizado é composto por todo tipo de informação, que foi digitalizada por alguém e que pode ser acessada eletronicamente via telefone celular, tablete, computador e televisão, entre outros dispositivos. O Mundo Virtual está associado ao Mundo Mental, constituído por todas as ideias, conceitos e preconceitos, significados, imaginação e fantasias, eventuais delírios e, no caso dos psicóticos, alucinações.

O Mundo Digitalizado reside nos computadores conectados via internet. Pessoas, Grupos, Instituições Privadas e Governamentais criam conteúdos com propósito de influenciar nossa Atenção Seletiva. Desafortunadamente, muitas pessoas assumem que o Mundo Digitalizado é crível e não validam a versão dos fatos que ele apresenta.

Há muito interesse em que acreditemos no que dizem outras pessoas e que deixemos de desenvolver ideias e conceitos a partir das nossas próprias experiências e percepção. Isto ocorre desde a nossa infância.

A Tecnologia da Informação vem promovendo a Convergência para o Mundo Digitalizado de forma muito rápida. E é cada vez mais fácil e cômodo acessá-lo. Esta facilidade gera a ilusão de que toda informação importante para nós está no Mundo Digitalizado. Vamos deixando de buscar outras fontes de informação e também reduzimos os encontros presenciais, as conversas cara-a-cara, o abraço gostoso e revelador, entre outros.

E nas sessões de psicoterapia ...

"Seria possível ter uma Convivência de Boa Qualidade com alguém que percebe o mundo de forma diferente da nossa?"

As dificuldades de conviver com os diferentes tipos de pessoas são temas frequentes nas sessões de psicoterapia.

Partindo da premissa de que a Percepção de cada um é singular, seguem algumas considerações relacionadas à manuenção de uma Convivência de Boa Qualidade:

Conflitos entre pessoas estão associados a valores morais, expectativas frustradas, fantasias inviáveis e mais comumente às diferentes de percepções e opiniões.
Opiniões sobre fatos e ideias têm relação direta com a Percepção. E discutir opiniões divergentes depende da nossa compreensão de que as ideias e opiniões são tão singulares quanto a nossa personalidade.
Saber ouvir, falar e deixar falar é fundamental para uma boa convivência.
Respeito às diferenças é mais fácil de praticar se entendemos que o outro percebe o mundo de forma diferente da nossa.
Mais Cooperação e menos Competição também ajudam a criar uma convivência de boa qualidade.