Setembro/2020 

Psicologia
Caráter e Terapia Reichiana
 

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A Terapia Reichiana foi desenvolvida por Wilhelm Reich (1897-1957), que se dedicou ao estudo do corpo, da mente e da energia.
 

Reich observou que o corpo mostra a história do indivíduo e desenvolveu a técnica da Análise do Caráter(*), que considera o caráter do paciente como um todo, num trabalho mais rápido, dinâmico e profundo.
 

“Por meio da manipulação direta das couraças (tensões corporais), Reich conseguiu alcançar memórias “aprisionadas” nessas couraças de forma a liberá-las, mobilizando juntamente a energia retida na musculatura, mapeando o corpo em sete segmentos de couraça: ocular, oral, cervical, peitoral, diafragmático, abdominal e pélvico, onde cada segmento retém uma história particular decorrente de estresses sofridos durante as etapas do desenvolvimento psicoafetivo pela qual todos os seres humanos passam desde a gestação. A esse trabalho de manipulação das couraças Reich deu o nome de Vegetoterapia.
Na continuidade de seus trabalhos, Reich também descobriu que a energia que circula dentro do corpo humano é a mesma que se encontra no cosmos, porém, em concentrações e formas diferentes. Denominou-a de energia orgone. Assim desenvolveu uma nova técnica de trabalho denominada Orgonoterapia,  visando integrar em um único trabalho as questões psicológicas, corporais e a dinâmica energética do paciente. Consolidou-se, portanto, uma nova ciência que Reich denominou de Orgonomia.

O que atualmente chamamos de Terapia Reichiana engloba as técnicas da Análise do Caráter, da Vegetoterapia e da Orgonoterapia.” (**)


Caráter na Teoria de Reich
 

“Um conceito fundamental na teoria reichiana é o de caráter. Reich o define como “um mecanismo de defesa narcísico”. ... Para Reich, ... é pela necessidade de se desfazer uma tensão (desprazer) que o sujeito age. Se essa ação for eficaz, poderá ser repetida, transformando-se em um modo típico de reação. Os vários tipos específicos de reação articulam-se entre si e formam uma unidade: o caráter. “(***)

 

De maneira geral, Reich discriminou três tipos básicos de caráter: o genital, o neurótico e o pestilento.
O caráter genital é o protótipo de saúde. No caráter neurótico predomina o imobilismo, a resignação, a impotência orgástica e o medo de viver. O caráter pestilento apresenta misticismo destrutivo, explosões violentas de sadismo, irracionalismo, sexualidade pornográfica, moralismo sádico, autoritarismo, ódio ao trabalho, dissimulação, intolerância e preconceito.


Em seu livro Análise do Caráter, de maneira mais específica, Reich define 5 tipos de caráter neurótico: histérico,  compulsivo, passivo-feminino, 

fálico-narcisista e masoquista.
"... 

  • Caráter Histérico: apresenta uma atitude sexual inoportuna; ansiedade e timidez em relação ao objeto sexual desejado; corpo esbelto e arredondado; instabilidade de reações; tendência a somatizações.
  • Caráter compulsivo: sentido de ordem pedante; perfeccionismo; avareza; tendência a remoer pensamentos de maneira obsessiva; afetivamente, pode chegar a um bloqueio de afetos; fisionomia dura e musculatura corporal em estado de hipertonia crônica.
  • Caráter passivo-feminino: polidez e concordância exageradas, suavidade e tendência a ludibriar; desculpa-se constantemente; voz suave e de tonalidade feminina; mãos delicadas e finas; estrutura física frágil e delicada.
  • Caráter fálico-narcisista: autoconfiante, arrogante e agressivo; tipo atlético; exibição de superioridade; a potência eretiva é muito bem desenvolvida; objetos sexuais geralmente muito desejáveis; menosprezo pelo sexo feminino.
  • Caráter masoquista: sentimento subjetivo crônico de sofrimento: tendência a se queixar; tendências crônicas de infligir dor a si próprio e de se autodepreciar e atormentar os outros; comportamento desajeitado; o corpo é geralmente curto, grosso e musculoso e com acentuado crescimento de pelos; achatamento das nádegas. ... “ (****)

 


Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara, estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, já tinha envelhecido.

 

Fernando Pessoa  
 


Referências bibliográficas e textos utilizados:


(*) Reich, Wilhein, 1897-1957, Análise do caráter, 3a. ed., São Paulo: Martins Fontes, 1998

(**) Psicoterapia Corporal - Análise Reichiana, Centro Reishiano & Volpi, acessado em 26/09/2020
(***) Wagner,Cláudio Mello, Freud-Reich: continuidade ou ruptura?, São Paulo, Summus, 1996Martins Fontes, 1998

(****) Psicoterapia Corporal Reichiana: noções básicas, Gisele Fontenelle de Oliveira Castro; acessado em 26/09/2020