Junho/2021                                                             

Psicologia
"Sinto, logo Existo"
"Penso, logo Existo"

Comunidade versus Causalidade
 

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Tomando como base as ideias existencialistas, a Existência Humana é uma Condição da Pessoa e a Natureza Humana é comum a todos os seres humanos. O nosso modo de ser (de existir), também denominado Personalidade na Psicologia, resulta da condição humana em que estamos inseridos.

 

Nossa condição leva em conta diversas circunstâncias experimentadas durante toda a vida. Elas incluem o lugar, o momento histórico, os costumes e regras morais, o clima, as relações familiares e sociais, a situação econômico-financeira, a saúde e as escolhas de cada um. Cada pessoa vivencia sua condição de modo próprio e único. Para o existencialismo e para a Psicologia, o indivíduo que existe é caracterizado por sua singularidade.

 

Neste informe focamos em duas características psicológicas que definem nossa existência, modo de ser e personalidade:

o Sentir e o Pensar.

 


Paixão: mais Sentir que Pensar
 

Apaixonar-se é o melhor exemplo de poder de encantamento inerente ao mundo irracional do corpo.

 

Na paixão, o ego abandona a sua hegemonia e se entrega ao corpo. A pessoa fica livre para responder de maneira misteriosa ao corpo de outra pessoa. O(a) apaixonado(a) experimenta um sentimento de unidade não só com sua paixão, como também com toda a vida.

 

Que explicação pode ser dada para esta experiência única?

A pessoa apaixonada não precisa desta explicação.

 

 

Existimos porque sentimos (corpo) e Existimos porque pensamos (mente).

 

Sentir é involuntário, irracional e incontrolável. Pensar é voluntário, racional e controlável. Por meio das funções mentais controlamos especialmente a atenção e concentração. Porém, é uma ilusão acreditar que a mente pode controlar o que sentimos.

 

Em termos psicoterapêuticos, consideramos que o Sentir acontece primeiro e o Pensar é consequência das sensações e afetos percebidos pelo nosso Sistema Sensorial.

 

As Emoções Básicas que sentimos são:
alegria, raiva, medo, nojo e tristeza.

 

A partir do que acontece em nossa vida, o sistema sensorial capta os estímulos  e o corpo reage com as emoções básicas decorrentes de cada estímulo. Quando agimos assim, sem conter a expressão emocional, somos guiados pela nossa natureza humana.

 

A Condição Humana, entretanto, nos cobra uma maneira adequada de reagir aos estímulos. A maneira adequada que esperam de nós é determinada por ditames da civilização: regras morais, leis, ritos e manipulações.

 

O conflito entre o que pede nossas emoções e os ditames da civilização define o que chamamos de Ego (ou eu). Construímos o Ego para lidar com tudo o que acontece, de acordo com nossa Condição Humana. É o Ego que determina o que chamamos de Imagem Pessoal. À Imagem Pessoal associamos a maneira como queremos ser percebidos para sermos aceitos, incluídos, admirados e amados pelas pessoas de nossos ciclos sociais.

 

Um Ego sadio é conselheiro e não o ditador de nossas ações. Ele respeita o corpo e não nega a Natureza Humana.

 

Na busca do nosso bem estar, contamos com a psicoterapia para nos ajudar a conciliar o conflito entre o que pede o Corpo e os Ditames da Civilização, e para que nossa existência seja guiada pelo Sentir e aconselhada pelo Pensar.

 

O Ego como conselheiro do Corpo

Recortes editados do livro “O Corpo Traído”, de Alexander Lowen

 

Do ponto de vista do corpo, a realidade é uma cadeia contínua. O ego, o corpo e a natureza são campos interligados. Qualquer evento num dos campos da experiência influencia e altera os outros campos, de forma dinâmica. Esta visão da realidade caracteriza as atitudes do homem primitivo e da criança em relação à vida.

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A realidade percebida pelo corpo oferece ao homem primitivo e à criança um senso de identidade imediato, que se baseia nas sensações e sentimentos corporais. O homem primitivo sente que pertence à sua família, à sua tribo e à natureza. Da mesma forma, a criança sadia possui um senso similar de pertinência. Pelo fato de o continuum ego-corpo-natureza ser um todo dinâmico, qualquer perturbação ao sentimento de inter-relação entre os diferentes campos da experiência é atribuída a um poder sobre-natural.

 

O conhecimento transformou a visão primitiva da realidade. O homem civilizado descartou a ideia de sobrenatural: superou o temor respeitoso do homem primitivo, que reverenciava o desconhecido e os processos misteriosos do corpo e da natureza. Substituiu a crença primitiva no espírito e na natureza por uma fé na mente e na razão.

 

“Penso, logo existo” se sobrepôs ao “Sinto, logo existo.” O homem tornou-se ego-ista, objetivo e alienado, perdendo assim o seu sentimento de unidade com a natureza. O ego, identificado com a mente, proclamou o seu domínio sobre o corpo.

 

O conhecimento trouxe para o homem uma visão da natureza e da realidade externa nas quais os acontecimentos acham-se relacionados entre si por meio de causas demonstráveis. Nesta visão da realidade, os campos da experiência interagem através de relações causais diretas.

 

 

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No continuum do estado primitivo não se deixa margem para o inesperado. Quando este ocorre, ele é visto como uma manifestação do sobrenatural.

 

A descontinuidade, por outro lado, deixa uma abertura para a experiência inesperada, que é então transformada em conhecimento, através de observações repetidas realizadas por um ego objetivo. O conhecimento é um poder com que se pode contar, é a habilidade consistente para atuar sobre os processos naturais e controlá-los em determinadas situações.

 

Através do seu ego, o homem pretende ser o ator principal no drama da vida, e assim fazer a sua história. A cultura civilizada é um processo dinâmico marcado por um conhecimento sempre crescente e por uma separação cada vez maior entre Ego, Corpo e Natureza.

 

Comunidade e Causalidade

 

Comunidade, a visão comunal, estabelece a continuidade Ego-Corpo-Natureza e a totalidade dos campos de experiência.

 

A causalidade deixa de lado o universal e explica as relações em termos de ações demonstráveis, considerando uma determinada situação, a fração da realidade que pode ser observada objetivamente.

 

Sentir  versus  Pensar
Vantagens e Desvantagens

 

O homem primitivo (assim como a criança) é dono de um sentimento espontâneo de pertinência e de uma forte identificação com o corpo e sua função de prazer. Ele é, contudo, relativamente indefeso em face às vicissitudes da natureza.

 

O homem moderno conseguiu adquirir um grau relativamente elevado de segurança externa, porém, com muita frequência, esta segurança foi adquirida com a perda do sentimento de harmonia e unidade com seu corpo e com a natureza.

 

A pessoa sadia é capaz de identificar-se com o seu corpo, sensações e sentimentos, mantendo-se, unida à natureza, como quando era criança. Ao mesmo tempo, tem consciência das relações de causa e efeito. Seu funcionamento racional se sobrepõe ao senso de unidade que ela experimentou na infância, e o seu ego não nega esta unidade.

 

É o ego quem dá origem às categorias do “eu” (sujeito) versus o “mim” (objeto), do “eu” (si próprio) oposto ao “outro”, do homem como um sujeito que atua sobre a natureza como objeto. Neste processo de evolução, o corpo passa a ser também um objeto do ego, e é reduzido ao papel de um instrumento da vontade. O ego torna-se objeto de adoração, ditando as regras, em vez de manter-se como conselheiro, cuja função é servir de mediador entre a realidade interna e a externa.

 

Homens, organizações e até mesmo nações inteiras tornam-se preocupados com as suas imagens, em detrimento de suas funções básicas.

 

Enquanto o ego exercer o seu domínio sobre o indivíduo, este não terá oportunidade de viver as experiências transcendentais ou oceânicas que dão significado à sua vida. Uma vez que o ego reconhece apenas causas diretas, ele não pode admitir a existência de forças que estejam além da sua compreensão. É só quando o ego se rende à majestade da natureza que a pessoa pode ter uma experiência mística.


Referências Bibliográficas:

O Corpo Traído - Alexander Lowen - São Paulo - Sumus - 1979