Setembro/2022: Psicologia
Cuidar e Jean Piaget
Teoria do Desenvolvimento Humano
Este informe traz um recorte do trabalho de Jean Piaget e sua Teoria do Desenvolvimento Humano. Depois de "Cuidar e Wallon" continuamos a estimular os cuidadores a conhecerem as Teorias do Desenvolvimento Humano. O próximo informe será o "Cuidar e Freud".
São inúmeros os desafios trazidos pelos pacientes cuidadores, em especial mães e pais de bebês, crianças e adolescente. A variada combinação de relações conjugais; a terceirização dos cuidados às crianças, o uso precoce de jogos eletrônicos e redes sociais nas fases iniciais do desenvolvimento intelectual e psicológico e os estímulos para o consumo desenfreado, trazem ansiedade e culpa a quem se dedica ao cuidar-acolher-prover-proteger.
Com o objetivo de colaborar para que sejam “cuidadores suficientemente bons”, trazemos um recorte da teoria de Piaget. Ele pesquisou e escreveu nos campos da Biologia, Filosofia, Psicologia, Lógica, Sociologia, Teologia e História da Ciência, além de Física e Matemática. Sua preocupação central foi o estudo dos processos de pensamento presentes desde a infância até a vida adulta.
Com destaque especial ao Construtivismo, as ideias de Piaget são referência para os modelos pedagógicos de muitas escolas.
"A infância é o tempo de maior criatividade na vida de um ser humano."
"O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram."
Jean Piaget
E nas sessões de psicoterapia ...
Sobre o cuidar
Na nossa cultura (ocidental), aparentemente, o desenvolvimento mental da criança é o processo que recebe mais atenção dos cuidadores. O “penso, logo existo”, de Descartes, reina nos mais diversos ambientes e, em especial, nas escolas. Ações de suporte e correção de rumo no desenvolvimento mental da criança são incontáveis. A oferta de serviços nesta área é enorme, em contraponto aos serviços oferecidos e acessíveis na área psicológica, como lidar com emoções e sentimentos, socialização,
comportamentos inadequados, atitudes anti-sociais, entre outros. Nestas questões o cuidador se sente muitas vezes desamparado e desassistido.
A Teoria de Piaget também nos ajuda a Cuidar Bem em Cada Encontro.
Ao considerarmos o período de desenvolvimento piagetiano, podemos agregar à já citada empatia e compaixão, a capacidade intelectual do outro. Como adultos cuidadores, ao interagirmos com uma criança ou um adolescente, deveríamos considerar os conceitos e estágios de desenvolvimento propostos por Piaget.
Explorar antes de opinar ou agir
Chamamos de interação ou conversa exploratória à escuta atenta ao que a criança ou adolescente tem a dizer. Explorar é estimular a contar em detalhes o que aconteceu e também a reflitir sobre como lidaram com o acontecido.
Recomendamos que o cuidador sempre faça a conversa exploratória antes de opinar e agir. Criticar, corrigir, estimular, proibir, premiar, desdenhar, expressar emoções, sempre que possível, só depois de explorar. A conversa exploratória é um recurso muito eficaz que pode ser utilizado em qualquer encontro, seja com crianças, adolescentes ou adultos.
Com base no que Piaget nos apresentou, orientamos nossos pacientes, em especial pais e mães, a considerarem o período de desenvolvimento e a não agir antes de uma boa conversa exploratória.
"O ideal da educação não é aprender ao máximo, maximizar os resultados, mas é antes de tudo aprender a aprender, é aprender a se desenvolver e aprender a continuar a se desenvolver depois da escola."
Jean Piaget
Piaget afirma que todas as pessoas passam por quatro estágios de desenvolvimento cognitivo:
1. Sensório-Motor, 0 até 2 anos;
2. Pré-Operacional, 2 até 6-7 anos;
3. Operatório-Concreto, 6-7 até 11-12;
4. Lógico-Formal, 12 anos em diante.
Em cada um desses estágios, o pensamento se organiza de uma maneira específica.
Segundo Piaget, não é possível pular estágios nem retroceder. Todas as pessoas passam por todos os estágios na mesma sequência.
Teoria do Desenvolvimento Humano
Recortes editados do livro:
Psicologia do Desenvolvimento -
Teorias do Desenvolvimento - Conceitos Fundamentais
Bases da Teoria de Piaget
Piaget mostrou que a criança e o homem se desenvolvem num processo ativo de contínua interação, procurando entender os mecanismos mentais que utilizam nas diferentes etapas da vida para compreender o mundo.
Para Piaget a adaptação à realidade externa depende basicamente do conhecimento. É a realidade externa ao sujeito que regula e corrige o desenvolvimento do conhecimento adaptativo.
A função do desenvolvimento é produzir estruturas lógicas que permitam ao indivíduo atuar sobre o mundo de forma cada vez mais flexíveis e complexas.
Ao observar as crianças, Piaget as viu tentando descobrir o sentido do mundo, lidando ativamente com objetos e pessoas.
Conceitos Fundamentais
Conceitos piagetianos essenciais à compreensão do processo de desenvolvimento da inteligência:
Hereditariedade
O indivíduo herda uma série de estruturas biológicas que predispõem o surgimento de certas estruturas mentais. Herdamos um organismo que vai amadurecer em contato com o meio ambiente.
Tanto o ambiente físico quanto o social oferecem estímulos e situações que requerem um processo cognitivo para a sua resolução. A plena realização destas capacidades depende das condições que o meio ambiente irá oferecer.
Adaptação
O ato de conhecer é prazeroso e gratificante para bebês, crianças, adolescentes e adultos. Constitui-se numa força motivadora para o próprio desenvolvimento.
O conhecimento possibilita novas formas de interação com o ambiente, proporcionando uma adaptação cada vez mais completa e eficiente, que é gratificante para o indivíduo.
Esquema
No aspecto mental, podemos dizer que a nossa estrutura unitária básica é o esquema, é como uma peça do Lego. Um esquema pode ser conceituado também como uma disposição comportamental específica, ou como uma ideia que formamos a respeito de uma pessoa, objeto ou situação.
O esquema pode ser simples, como uma resposta específica a um estímulo. Por exemplo, o bebê suga o dedo quando este encosta nos lábios.
O esquema pode ser complexo, como o esquema que temos das pessoas. Por exemplo, o esquema que o filho tem da mãe, ou a maneira como solucionamos problemas matemáticos ou científicos.
Equilíbrio ou Processo de Equilibração
Nosso organismo funciona de modo a atingir e a procurar manter um estado de equilíbrio interno que permita a sobrevivência num determinado meio ambiente. Piaget traça um paralelismo entre o desenvolvimento biológico e o desenvolvimento mental.
Exemplificando: ao sentir fome, o indivíduo buscará uma forma de obtenção e ingestão de alimentos, que permita sanar esta deficiência orgânica e, quando o fizer, retornará a um estado de equilíbrio.
O desenvolvimento é um processo
que busca atingir formas de equilíbrio cada vez melhores.
Estágiosos de Desenvolvimento
Para Piaget, o desenvolvimento é um processo de equilibração progressiva que tende para uma forma final: a conquista das operações formais.
Estágio Sensório-Motor (0 a 24 meses)
Representa a conquista de todo universo prático que cerca a criança, através da percepção sensorial e dos movimentos. Este período faz com que a criança tenha condições de lidar, embora de modo rudimentar, com a maioria das situações que lhe são apresentadas.
A criança trabalha ativamente no sentido de formar uma noção do "eu", de se distinguir como objeto e de se colocar em relação a eles.
Gradualmente irá conquistar alguns comportamentos que lhe permitirão organizar a realidade: a noção de permanência dos objetos (um mundo estável onde a existência dos objetos é independente da sua percepção imediata), a construção do espaço prático (um espaço geral que contém todos os outros espaços parciais e os objetos contidos nele); a causalidade e as séries temporais.
Ao final deste período a criança já terá realizado uma boa caminhada no sentido de conhecimento e adaptação à realidade, embora permaneça bastante limitada em suas possibilidades intelectuais. Terá atingido uma forma de equilíbração e será capaz de resolver uma série de situações através de sua inteligência sensório motora.
Estágio Pré-operacional (2 a 6-7 anos)
A criança, a partir dos 2 anos, estará desenvolvendo ativamente a linguagem. Iniciará a capacidade de representar uma coisa por outra: formar esquemas simbólicos. Usará palavras como forma de representar os objetos.
Em nível comportamental a criança atuará de modo lógico e coerente. Porém em nível de entendimento da realidade estará desequilibrada, em função da ausência de esquemas conceituais.
Em nível social, notar-se-á o início do desligamento da família em direção a uma sociedade de crianças, onde o relacionamento se caracteriza por brincar compartilhando seus brinquedos e fazer coisas junto com outras crianças, mas sem interação afetiva.
Neste período ocorre também uma transição no aspecto da linguagem, pois observamos com frequência a criança falando sozinha. Por exemplo, ao dizer “nenê papa”, a criança está treinando os esquemas verbais recém-adquiridos.
Estágio Operatório-Concretas (6-7 a 11-12 anos)
Observa-se um marcante declínio do egocentrismo intelectual e um crescente incremento do pensamento lógico. A criança terá um conhecimento real, correto e adequado de objetos e situações da realidade externa: os esquemas conceituais.
As ações físicas, típicas da inteligência sensorial-motora passam a ser internalizadas, a ocorrer mentalmente. O julgamento deixa de depender da percepção e se torna conceitual.
Quanto à linguagem, verificar-se-á um acentuado declínio da linguagem egocêntrica até chegar a uma linguagem totalmente socializada.
Também ocorrerá uma diminuição do egocentrismo social. A criança já terá capacidade para perceber que os pensamentos, sentimentos e necessidades das outras pessoas são diferentes dos seus. Isto levará ao desenvolvimento de uma interação social mais genuína e mais afetiva com outras crianças e com os próprios adultos.
Quanto ao desenvolvimento dos julgamentos morais, observa-se uma tendência à interiorização. Os julgamentos que eram feitos em função do ato efetivamente praticado, passam a levar em conta as intenções de quem praticou o ato.
Estágio Lógico-Formal (12 anos em diante)
Na adolescência o sujeito será capaz de formar esquemas conceituais abstratos, conceituar termos como amor, fantasia, justiça, esquema ou democracia. Poderá realizar operações mentais que seguem os princípios da lógica formal, obtendo uma riqueza imensa em termos de conteúdo e de flexibilidade de pensamento. Com isso adquire a capacidade de criticar os sistemas sociais, propor novos códigos de conduta, discutir os valores morais de seus pais e construir os seus próprios valores, adquirindo sua autonomia.
Para Piaget, ao adquirir a capacidade de formar e realizar operações mentais com os esquemas conceituais abstratos, o indivíduo atinge sua forma final de equilibração.
Referência bibliográfica:
Psicologia do Desenvolvimento - Volume 1 - Teorias do Desenvolvimento - Conceitos Fundamentais;
Clara Regina Rappaport, Wagner da Rocha Fiori, Cláudia Davis; São Paulo: EPU, 1981
Outros Informes: Psicologia Assessoria de Desempenho Consultoria Empresarial Idéias Inspiradoras