Agosto/2021

Psicologia
O que nos faz ser assim?
Teoria da Causalidade  e
Séries Complementares

 

O que nos faz ser assim 1.png

 

Causalidade e Comunidade, o informe de junho/21, gerou discussões muito interessantes.  Provocou reflexões sobre o que nos torna quem somos. Esta foi a motivação deste tema.
 

Focamos nos processos mentais. Eles nos ajudam a compreender a realidade. Abordamos os processos lógicos, capacidade de desenvolver os conceitos e ideias que utilizamos na vida.
 

Tratamos o tema a partir da Teoria da Causalidade e da ideia das Séries Complementares (Teoria da Causalidade de Freud). A psicanálise aponta os principais fatores formadores da nossa personalidade, e Freud denomina a maneira com que agimos no mundo de Predisposição.

 


Caráter
Conjunto das características que formam a personalidade

 

Para Reich, o Caráter, expresso como “é assim mesmo que eu sou”, é passível de análise (e transformação) assim como um sintoma. No processo psicoterapêutico, o caráter é observado a partir da forma de expressão do paciente, O analista leva em conta não apenas o que o paciente diz, mas também a maneira como diz.

 

 

A Teoria da Causalidade

 

Negando o acaso, a Teoria da Causalidade é determinista.

 

  1. Monocausalidade:

        
    A causa B

 
É unidirecional. Nos traz a ideia de Causa e Efeito. Pode nos fazer acreditar na ilusão da causa única.

A Saúde Mental não pode ser tratada com a ideia da Monocausalidade, pois não tem causa única, é consequência de inúmeras causas.

 

2, Monocausalidade em cadeia
 

    A causa B e B causa C


Traz a ideia do Efeito Dominó, ou da Reação em Cadeia. Pode nos fazer acreditar na ilusão de um encadeamento de causas. Frequentemente esta ideia nos faz crer que temos a capacidade de prever o futuro, baseados em eventos e consequências já experimentados.

Nos valemos da Monocausalidade em Cadeia para justificar a Ansiedade, pois “não podemos deixar de pensar nos danos futuros que imaginamos ou prevemos", como dizem muitos pacientes.

A ideia do controle também vem da Monocausalidade em Cadeia.

 

3. Policausalidade:

    
A é causado por a, b, c, d, e, ...

 

Inclui a impossibilidade de se identificar todas as causas. Está associada ao procedimento científico de considerar as causas conhecidas e delimitar um ambiente com causas controláveis para confirmar uma determinada tese. É também a base do desenvolvimento tecnológico.

A Policausalidade não considera a inter-relação entre as causas.

 

  1. Ação Recíproca ou Feedback:

 

A depende da relação com B,

B depende da relação com C e

C depende da relação com A

 

Ação final é o resultado da inter-relação e interdependência das causas. É dialética. Não considera a ideia de Causa e Efeito. A ação depende do momento e da intenção.


A Ação Recíproca parece ser a maneira adequada de compreender a saúde mental e a personalidade das pessoas.

 

Séries Complementares

A Teoria da Causalidade de Freud

 

Por que somos e agimos assim?

 

O que determina o humor, o gênio, a forma de lidar com o que a vida nos apresenta?

 

Refletindo sobre a discussão das causas determinantes da personalidade, Freud desenvolveu a ideia das Séries Complementares, propondo que se considere pelo menos quatro fatores para compreender a predisposição de uma pessoa, sua maneira de levar a vida.

Séries Complementares 3.png

Fatores Congênitos e Hereditários
 

 - Herança biológica
 - Experiências da vida intrauterina
 - Tônus: quantidade de energia
 - Metabolismo

 

Experiências Infantis
 

 - Relação com cuidadores
     -- maternagem e paternagem

 - Desenvolvimento psicossexual

 - Traumas Infantis

 

Fatores Atuais e Desencadeadores
 

 - Local de moradia

 - Situação econômicas

 - Experiências de vida

 - Dinâmica da vida:
      estresse, projetos, realizações, 
      frustrações, relações ...

 

Efeitos e Sintomas
Fatores dependentes da Estrutura Psíquica e do Caráter


A Estrutura Psíquica define a maneira de perceber e lidar com a realidade. Pode ser:

 

  Neurótica:

     Percebe a realidade como ela é.
     Aproveita o que há de bom.
     Lida com o sofrimento.

 

  Perversa

     Percebe a realidade como ela é.
     Aproveita o que há de bom.

     Não aceita frutrações.
     Nas relações, manipula o outro,
        deixando o ônus por sua conta.

 

  Psicótica

     Percebe uma realidade diferente.
     Alucina, vive num mundo próprio.
     É o caso dos esquizofrênicos.

 

Caráter é o conjunto de características formador da personalidade.

  Reich, define cinco tipos de caráter:

 

   - Histérico  

   - Masoquista

   - Fálico-Narcisista

   - Compulsivo

   - Passivo-Feminino


E nas sessões de psicoterapia ...
 

A inter-relação entre os quatro fatores das Séries Complementares são objeto da análise.
 

De uma forma mais sucinta, a psicanálise de Freud propõe que o processo psicoterapêutico - seria mais apropriado chamá-lo de processo de análise -, leve em conta quatro aspectos da história do paciente: Genética, Hereditariedade, Ambiente em que se desenvolveu e os Traumas ocorridos em sua vida.

 

E Reich mostra a relevância da análise do caráter para se  compreender os mecanismos de defesa. Estas defesas “entrelaçadas” formam um exército bem equipado e muito resistente, para evitar os conflitos entre a excitação sexual e a angústia causada pelas regras morais que impõem sua repressão.

 

 

As ideias derivam de sensações
Um pouco de Filosofia

 

Recortes e edições do texto do
filósofo João Francisco P. Cabral:

O Empirismo Crítico de John Locke,
(acessado em 26/7/2021)

John Locke 3.png

"...

De acordo com Locke, a mente é como uma cera passiva, desprovida de conteúdos, em que os dados da sensibilidade vão imprimindo ali as ideias que podemos conhecer.
...
As ideias inatas existem no espírito humano, são anteriores ao nascimento e coordenam, assim, o modo como o homem conhece. ... Corpo e mente são uma coisa só, não são distintos como em Descartes.

...
ainda estamos trabalhando com a noção de sujeito como fundamento, mas agora não mais um sujeito universal (razão) e sim um sujeito particular no qual todas as representações (ideias) estão encerradas no modo como cada indivíduo percebe a realidade.

...

Como universalizar os juízos, já que as representações são particulares?
...
Para Locke, a única coisa que pode ser inata no homem é a capacidade de depreender (abstrair) ideias dos fatos singulares (como em Aristóteles) e não que as próprias ideias sejam inatas (como em Descartes).
...
Para Locke ... as ideias derivam das sensações. Não existe pensamento puro sobre conceitos meramente inteligíveis, mas pensar é sempre pensar em algo recebido pelas sensações impressas em nossa mente. A experiência nada mais é do que a observação tanto dos objetos externos como das operações internas da mente.
...

O conhecimento, então, consiste na percepção da conexão ou acordo (ou do desacordo e do contraste) entre nossas ideias.
..."

Referências Bibliográficas:

Acesse o link: Séries Complementares - Freud - Conferências Introdutórias- Parte III

Análise do caráter, Wilhein Reich, 3a. ed., São Paulo: Martins Fontes, 1998


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