Jaimildo Vieira - Languishing

Alguns anos atrás refleti sobre forma de iniciar um encontro. Percebi que muitas vezes dizemos: “Tudo bem?”. Perguntei-me: seria o “tudo bem” uma pergunta, uma afirmação ou um desejo meu? Seria esta a melhor forma de expressar meu interesse em saber como o outro está? Resolvi transformar meu hábito e dizer “Como vai? ou Como você está?”. E confirmei o quanto é difícil mudar hábitos, pois muitas vezes me pego iniciando o encontro com um “Tudo bem?”.

Acredito que os encontros deveriam começar com empatia, a tentativa de perceber como o outro está. Então adequaríamos o encontro ao estado de humor do outro. E, se necessário e desejado, iniciaríamos o encontro com compaixão e não com as demandas planejada a priori.

Ana Maria, minha paciente, compartilhou uma reportagem. O tema inspirou este informe: Languishing. Pesquisando, assisti a palestra de Adam Grant, que me fez lembrar da reflexão que citei e também do “Como vai você?”, que Rita Lee canta, em Nem luxo e nem lixo.

De acordo com o dicionário Longman, se uma pessoa languishar, ela está forçada a permanecer num lugar (ou estado) onde se sente infeliz. O termo “languishing” vem sendo utilizado para denominar um sentimento persistente de apatia, desânimo e falta de motivação.

Languishing “Não é tristeza, não é cansaço, não é depressão... É mais um desânimo, uma desmotivação, a sensação de carregar um peso invisível e constante, um coração apertado, respiração difícil ...”.

Languishing pode ser traduzido como Definhamento.
Esta condição tornou-se mais frequente com a pandemia.

O sociólogo e psicólogo, Corey Keyes, aplicou o termo Languishing, às pessoas com apatia persistente e sensação de vazio. Pessoas que frequentemente se sentem indecisas, carregadas de incertezas, como se nada as fizessem agir. Experimentam sensações de desalento e desamparo.

Adam Grant, psicólogo organizacional, escreveu a respeito na versão digital do The New York Times e afirmou: “Na psicologia, pensamos em saúde mental em um espectro que vai da depressão ao florescimento. O florescimento é o pico do bem-estar: você tem um forte senso de significado, domínio e importância para os outros. A depressão é o vale do mal-estar: você se sente desanimado, esgotado e sem valor. O definhamento é o filho do meio negligenciado da saúde mental. É o vazio entre a depressão e o florescimento – a ausência de bem-estar. Você não tem sintomas de doença mental, mas também não é a imagem da saúde mental. Você não está funcionando em plena capacidade. O definhamento entorpece sua motivação, interrompe sua capacidade de se concentrar ... “

“Para Adam Grant, o definhamento não está apenas em nossas cabeças, está também em nossas circunstâncias. ”

O Languishing subtrai da pessoa a motivação, o propósito e o foco. Não é esgotamento ou desesperança, pois a pessoa ainda tem energia, porém, a pessoa se sente sem alegria, sem objetivo, estagnada. E essas sensações a dominam.

“Ainda vivemos em um mundo que normaliza os desafios da saúde física, mas estigmatiza os desafios da saúde mental. À medida que nos aproximamos de uma nova realidade pós-pandemia, é hora de repensar nossa compreensão de saúde mental e bem-estar. 'Não deprimido' não significa que você está lutando. 'Não triste' não significa que você está empolgado. Ao reconhecer que muitos de nós estão definhando, podemos começar a dar voz ao desespero silencioso e iluminar um caminho para sair do vazio.”

E em nossas sessões de psicoterapia

Criar um novo termo para um conjunto de sintomas permite que as pessoas se identifiquem com ele e que os profissionais da saúde utilizem o termo no processo colaborativo de desenvolvimento das terapias.

No mundo “psi”, a subjetividade associa aos sintomas gradação, espectros e interpretações variadas em função da singularidade de cada indivíduo. O diagnóstico é a melhor associação possível a um determinado conjunto de sintomas. Diríamos que a pessoa não está languishing ou definhando, mas que seus sintomas podem ser associados ao "novo" termo, o languishing.

É relevante registrar que o termo languishing não consta do DSM V, não é um transtorno oficial e poderá não vir a ser. Não há um protocolo respaldado pelos órgãos de saúde, que defina critérios diagnóstico ou tratamento.

Em uma de suas palestras, Adam Grant, sugere que, se estivermos em Fluxo (Flow), não seremos acometidos de Languishing ou nos livraremos dele. Para Grant, estar fluindo é uma condição individual ou grupal caracterizada por (1) pequenas conquistas, (2) atenção total voltada a uma única tarefa de cada vez e (3) fazer o que gostamos de fazer junto com quem realmente importa para nós.

Em nossa prática clínica, a Análise Bioenergética, colaboramos com a pessoa, ajudando-a a se reencontrar com seu corpo, e a tirar o mais alto grau de proveito possível da vida que há nele. O objetivo é tornar a pessoa mais vibrante, enraizada e tonificada.

A consciência e contato com as sensações corporais e a expressão das emoções promovem uma vida mais alegre e prazerosa.

Quando bem sucedida, a Análise Bioenergética minimiza as chances de o paciente apresentar sintomas associados a: apatia, falta de energia, depressão, burn out, sentimento de solidão e desesperança ... ou de sentir-se “Meh”.

Referência bibliográfica

Longman Dicionary of contemporary English – New Ed, England, Clays Ltd. St Ives plc, Eleventh Impression, 1990

Entenda o languishing: entorpecimento da vida e sensação de vazio, Estado de Minas Saúde, por Lilian Monteiro, acessado em 5/2/2022

Transcrição da página original do site Estado de Minas

Vídeo da Palestra de Adam Grant, acessada em 9 de fevereiro de 2022:
How to stop languishing and start finding flow

Alegria, a entrega ao corpo e à vida, Alexander Lowen, 2a. Edição, Summus Editorial, 1997

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais [recurso eletrônico] : DSM-V / [American Psychiatric Association ; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento ... et al.]; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli ...[et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2014.