Psicologia

Isolamento Social Covid19

O corpo fala: ouça o que ele lhe diz!

 

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A abordagem psicoterapêutica que utilizamos considera que a psiquê se expressa no corpo. Se mantivermos (ou desenvolvermos) a consciência corporal (*), aprenderemos que "o corpo é mais inteligente que a mente" e que se nos guiarmos por ele seremos mais saudáveis. 
 

As dicas registradas no texto de Maria Fernanda Rodrigues se assemelham à orientação que temos dado a nossos pacientes, na quase totalidade das sessões de psicoterapia, neste período de isolamento social, .

Costumo lembrar meus pacientes de que:
Corpo em movimento manda embora a ansiedade.

 

(*)

Consciência Corporal 
é um conceito das Psicoterapias Corporais,
como a Análise Bioenergética que praticamos.

 

Este conceito traz estranheza,
já que a consciência é
mais associada à mente, que ao corpo.

 

Pode-se entender a Consciência Corporal
como o exercício de atenção ao corpo, em especial, às sensações comumente chamadas de emoções.

 

Associamos Emoções às sensações do "aqui e agora", que demandam ações imediatas, por intermédio de movimentos do corpo.
 

As emoções são fundamentais para nos ajudar a lidar com os eventos do nosso dia-a-dia. Dentre elas estão o medo, a alegria, a raiva e a tristeza, 

 

 

Efeitos no Corpo

Problemas de pele e cabelo podem estar relacionados ao estresse do isolamento
Jornal O Estado de S. Paulo – 24 de maio de 2020 – por Maria Fernanda Rodrigues


Beatriz Albuquerque não comia doce depois das refeições. Gostava de beber alguma coisa alcoólica, mas isso não era um hábito. Não jogava. Isolada em casa há mais de dois meses, ela está incomodada com o rumo que as coisas estão tomando. “Hoje eu como doce numa quantidade muito maior e já devo ter engordado. E bebo todos os dias. Duas cervejas na hora do almoço. Ou vinho. Não é uma dose excessiva e não fico alcoolizada, mas bebo todos os dias. E passei a jogar buraco pelo telefone horas a fio”, diz, aos 68 anos, a professora de fotografia aposentada.


Fumante dos 13 aos 60 anos, com algumas idas e vindas no vício, ela acredita ter alguma tendência compulsiva, que se expressa agora nesses novos hábitos de novos tempos. “Eu e meu marido somos grupo de risco. Minha filha que vive na França vai ter bebê e eu, que ia passar três meses lá, não vou poder conhecer minha primeira neta tão cedo. E não quero morrer antes de conhecê-la”, diz.


Ela, que sempre foi muito ativa, que gostava de ler e tudo o mais, sente a depressão se aproximando, e comenta que esta entrevista pode ser um divisor de águas no isolamento. “Falando sobre isso agora, vejo que preciso mudar. Só está difícil sair dessa roda viva. Sinto que estou na pior fase, no olho do furacão.”


O que acontece com Beatriz não é muito diferente do que se passa, hoje, na casa de milhares de pessoas mundo afora. O medo e a insegurança diante do avanço do coronavírus, a ansiedade por não saber aonde isso tudo vai nos levar e o estresse da quarentena se refletem nessa vontade maior de comer e beber. E também na nossa pele, na queda de cabelo, nas unhas quebradiças, na coceira, no agravamento da psoríase e do vitiligo, e por aí vai.


Uma sugestão de especialistas para o tratamento para qualquer um desses distúrbios? Mudar o foco. Cuidar da saúde mental e da alimentação.

Órgão de expressão. Uma pessoa que era extremamente minuciosa em seu trabalho se pega agora limpando todos os cantos da casa. Os efeitos podem ser vistos em sua mão, em uma dermatite de contato, que a leva a constatar que sempre teve um transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Outra, que estava conseguindo controlar a queda de cabelo, relata agora que o problema voltou. Voltaram a aparecer lesões em uma mulher que estava com o vitiligo controlado. Em outro caso, uma pessoa conta que tem sensações diferentes na pele sem nenhuma causa orgânica. E uma mulher está com uma crise de urticária também sem causa.


Esses casos são relatados pela médica Márcia Senra, coordenadora do Departamento de Psicodermatologia da Sociedade Brasileira de Dermatologia, que conta que aumentou a procura por tratamento de problemas de pele durante a pandemia. “A ansiedade está tão alta que a pessoa não raciocina: vai descarregar isso na pele”, alerta. “A pele é um órgão de expressão de muita coisa, porque ela vem do próprio sistema nervoso. O cérebro está ligado à pele”, explica.
 

Márcia comenta que o momento é delicado e que algumas pessoas que já tinham patologias psiquiátricas, mesmo que escondidas, estão sentindo no corpo por não terem mais a rédea da própria vida. Mas não é, exatamente, que o estresse cause essas doenças. “A pessoa já tem uma condição ou uma genética, e o estresse ou o trauma exacerbam isso”, explica.
 

O que fazer, então? Aprender a cuidar de si, responde a dermatologista. “O médico tem de ensinar o paciente a cuidar da vida e da saúde. E isso é obrigatório agora. As pessoas vão ter de mergulhar dentro de si para ver o que podem fazer para baixar essa ansiedade.”


Márcia Senra gosta das técnicas de atenção plena, conta que já utilizou com pacientes dermatológicos e que têm sido também ensinadas a crianças.

“Com ela, aprendemos a não brigar com os sintomas, mas aceitá-los. Está comprovado em vários trabalhos científicos que isso muda áreas do cérebro.” Muitas dessas doenças são crônicas – têm controle, mas não têm cura – e ficar revoltado só vai piorar, alerta.


Apetite e emoção. O sedentarismo e a má alimentação são dois fatores a serem observados com mais atenção durante a quarentena, alerta o médico Madson Queiroz, professor da Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Para ele, os hábitos alimentares são influenciados pela ansiedade e ganhar peso tem sido uma rotina neste período de isolamento.


“Está todo mundo em casa, mais tenso e ansioso, e uma consequência disso é o aumento da ingestão calórica que, na maioria das vezes, são calorias de péssima qualidade, como carboidrato e gordura”, diz.


Se existe uma “fome emocional”? “A fome é uma só, mas o apetite é diretamente relacionado a questões emocionais. Esses transtornos de ansiedade pelo qual todos estamos passando geram um mecanismo de compensação e a forma mais frequente de se procurar uma compensação é na alimentação.”


Madson Queiroz também indica a mudança de foco. Respeitar o isolamento social e ter consciência de tudo o que está acontecendo, mas não viver essa pandemia 24 horas. É preciso, ele diz, desconectar um pouco, ler, ver filmes, procurar na internet circuitos de atividades físicas, como alongamento e ioga.

“Tentar fazer, na medida do possível, algum exercício em casa é fundamental. Além do benefício físico, isso atenua a ansiedade, tira um pouco o foco dessa situação estressante que estamos vivendo e acaba se refletindo nos hábitos alimentares.”


Fatores de risco. Queiroz explica que o excesso de peso importante está relacionado a descompensações clínicas, como piora do diabetes e do controle da hipertensão, e isso tudo é muito preocupante porque são fatores de risco para desfechos graves do coronavírus. Nessa situação, alerta, a orientação é que as pessoas entrem em contato com seu médico, conversem e recebam alguma orientação de dieta.


O médico também recomenda que pessoas com diagnóstico de hipertensão tenham alguma forma de monitorar isso, para não precisarem se deslocar a um pronto-socorro sem necessidade. E que diabéticos estejam ainda mais atentos à alimentação e não se esqueçam de medir a glicemia e procurar um médico se ela estiver descontrolada.


E para quem entrou nesta quarentena saudável, sem nenhuma doença identificada? “Neste caso, cuidar da saúde mental é o mais importante. Procure um tempo para outras atividades que não sejam só ficar em grupos de WhatsApp e lendo fake news, não passe o dia todo só ouvindo notícia da pandemia. O cuidado da saúde mental é extremamente importante e passa também por encontrar formas de lazer, manter algum nível de atividade física e bons hábitos alimentares”, finaliza o endocrinologista.

Quarentena açucarada.


Não é de hoje que ter uma alimentação saudável dá trabalho, e não é de hoje que ela pode servir de prevenção para muitos problemas – e de solução também. A mudança na rotina imposta pelo isolamento fez com que as pessoas mudassem, também, a alimentação. Vinculado a isso, diz Angélica Marques de Pina Freitas, presidente da Associação Paulista de Nutrição, tem a ansiedade do momento que estamos vivendo.


“Essa ansiedade gera, por um mecanismo fisiológico que temos, uma busca por alimentos que nos confortam. E, muitas vezes, esses alimentos são aqueles relacionados à infância ou à família, fazendo com que deixemos de lado o padrão de alimentação saudável que tentamos seguir no dia a dia”, diz.

Doce... o vilão da quarentena. “Ninguém vai dizer: estou nervoso, vou comer uma salada”, brinca Angélica. E é preciso identificar a origem dessa vontade maior de consumir açúcar e tentar controlá-la, buscando substitutos ou um equilíbrio. No caso de uma vontade muito específica, como o pudim da mãe, nada vai substituí-la – nem mesmo o pudim que essa pessoa fizer para se lembrar daquele que ela comia quando criança. Mas tudo bem comer uma fatia de dois dedos, diz a nutricionista.


Fora isso, é preciso saber que café, chá preto e chá mate ajudam a piorar a ansiedade. Para quem está abusando do café, por exemplo, a nutricionista orienta que o ideal é tomar de 2 a 3 xícaras (das de café mesmo, não de chá ou de leite) por dia. E saber também que alimentos com muita gordura terão uma digestão mais difícil e deveriam ser evitados agora.


Sem solução mágica. Para quem busca algo para fortalecer o sistema imunológico, a resposta é a mesma: frutas, legumes e verduras, sempre. Alguns alimentos ajudam, como os ricos em vitamina C (cítricos), vitamina D (leite e derivados, além da exposição ao sol) e ômega 3 (peixes).

“Eles podem ajudar, uma vez que a pessoa já tenha um padrão de alimentação saudável. Não adianta comer tudo processado e achar que se chupar uma dúzia de laranja vai estar imune. As pessoas procuram por uma solução mágica, mas não existe. Nosso hábito alimentar é que vai gerar um resultado lá na frente.”


E aqui voltamos ao começo, à necessidade e à dificuldade de ter alimentos frescos em casa durante a quarentena, e a nutricionista diz que é possível que a alimentação saudável seja, sim, prática. É claro que vamos investir tempo lavando folha por folha, maçã por maçã, mas depois é só abrir a geladeira e está tudo à mão, pronto para o consumo.


“Se conseguirmos ter uma alimentação saudável, composta por alimentos in natura, como frutas, legumes e verduras; por grãos, como arroz e feijão; e complementada com carne fresca, ovos, peixes, isso vai contribuir para a nossa saúde física, porque ela não vai ser um ponto de desequilíbrio que poderia causar um excesso de peso ou ocorrência de alguma deficiência nutricional, como uma anemia, e também vai contribuir para o nosso bem-estar mental”, afirma Angélica.


‘O CÉREBRO ESTÁ DIRETAMENTE LIGADO À PELE’, AFIRMA MÉDICA ‘O APETITE É RELACIONADO ÀS EMOÇÕES’, DIZ ENDOCRINOLOGISTA

 

DICAS DE BEM-ESTAR
 

Preste atenção ao pensamento que está escolhendo ter. “Todo mundo está sentindo alguma coisa, e isso vai repercutir na pele, no estômago, no coração”, diz a médica Márcia Senra.
 

Tente retomar atividades criativas que gostava de fazer e deixou de lado por algum motivo.
 

Reserve um tempo para ficar em um ambiente tranquilo e colocar em práticas técnicas respiratórias e fazer meditação.


Faça exercícios de forma moderada, escolhendo algo que dê prazer. Dance, faça tai-chichuan ou ioga, por exemplo.


Tire o foco da comida. Tenha horários e rotina, mantenha refeições principais e estabeleça horários para lanches. Mude o foco quando perceber que a vontade de comer for compulsão, para compensar o estresse.


Evite alimentos com muita gordura, que têm digestão mais difícil. E é melhor ingerir legumes congelados, se for a única opção, do que não comer nenhum tipo de legume.
 

Fique atento: se a vontade de ingerir açúcar vier sempre no fim do dia, pode ser um indício de que a alimentação está desequilibrada. “Pode ser que faltem vitaminas, minerais e carboidrato”, afirma Angélica Marques de Pina Freitas, presidente da Associação Paulista de Nutrição. Também pode ser sede.


Beba muito líquido, de preferência água. Evite suco natural em excesso. É saudável, mas calórico. Não tome refrigerante, suco de caixinha.

E reduza a bebida alcoólica ao mínimo possível. “Assim como algumas pessoas vão canalizar a ansiedade para a comida, outras podem fazer isso aumentando a ingestão de álcool. Está todo mundo em casa. O sábado passou a ser igual à segunda, à terça, quarta... Essa é uma preocupação relevante. Temos de controlar a ingestão de álcool”, afirma o endocrinologista Madson Queiroz.