Outubro/2022

Psicologia
 

Tempos sem Elegância

Transcrição do Texto de Claudia Zogheib


Caso queira acessar a página original, clique aqui.

 

Este informe compartilha o texto Tempos sem Elegância, de Claudia Zogheib, Psicóloga Clínica e Psicanalista.

 

Zogheib nos ensina que Elegância “trata-se de uma distinção na forma e maneira de ser: é a arte de escolher as palavras, de saber falar e escrever, de saber quando falar e quando calar, demonstrando requinte, bom gosto, um modo sábio e sutil de se portar e agir. É um conjunto de bons hábitos que revelam uma civilidade harmoniosa por dentro e por fora, de dentro para fora.”

 

Quando citou Freud, Totem e Tabu e Complexo de Édipo ...

 

“momento edipiano, momento este que temos que lidar com nossas hostilidades, com nossa condição de sujeitos humanos e simbólicos, que temos que nos reescrever num mundo social com regras, e que a partir do bom ou mau uso delas, dizemos quem somos e o que pretendemos.”
 

... fez-me associar seu texto ao informe “Cuidar e Freud”, que trata das Fases do Desenvolvimento Psicossexual. Foi a coincidência ou a sincronicidade que nos colocou em contato.

 

“Estamos vivendo "tempos sem elegância", o tempo do olho por olho, sem espaço para a manutenção da convivência entre os povos, entre as classes,”

 

Ouso dizer que é impossível Cuidar Suficientemente Bem  sem a Elegância de que nos fala Zogheib.

 

Tempos sem elegância

Por Claudia Zogheib

 

" este texto foi escrito (e você pode lê-lo) ao som da música: "Moonglow" com Tony Bennett, k.d. lang. "

 

Muitas vezes entendida de modo simplificado, como uma maneira de saber vestir-se ou comportar-se à mesa, a elegância é algo que não se trata de uma futilidade, sendo um equívoco desastroso pensar que seja algo fútil, que coloca a pessoa elegante longe de uma delicadeza natural, sem ser amável, uma atitude tão necessária à convivência humana.

 

A palavra elegância é um substantivo feminino "graça", e trata-se de uma distinção na forma e maneira de ser: é a arte de escolher as palavras, de saber falar e escrever, de saber quando falar e quando calar, demonstrando requinte, bom gosto, um modo sábio e sutil de se portar e agir, tendo estilo sem afetação, esmero, precisão. É adquirir um conjunto de bons hábitos que revelam uma civilidade harmoniosa por dentro e por fora, de dentro para fora.

 

É agir com cortesia, empatia, gentileza, cuidado, educação e discrição. É descobrir o quanto é vulgar falar mal dos outros, da maneira como o outro se veste, do quanto é vulgar participar de fofocas, fazer discursos inflamados sobre política e religião, de assediar sem consentimento, de cortejar e depois não sustentar o cortejo, de criticar mais que elogiar, de fazer diferença entre as pessoas, de exagerar na vontade de aparecer e na obscenidade.

 

Por elegância também podemos entender alguém que não deixa o outro se sentir menos, abrindo espaço para que o outro possa ser e ter sua personalidade engajada, exatamente porque ao sermos elegantes, deixamos o outro que é diferente de nós bem à vontade.

 

Totem e Tabu foi a princípio uma leitura endereçada aos antropólogos em que Freud buscava analisar a gênese dos totens, símbolos sagrados, e dos tabus, proibições de origem incerta que cercavam a liberdade individual e coletiva de uma determinada sociedade.

 

Este texto é muito importante porque fala da teoria dos povos, do modelo de cultura, e busca analisar como passamos para o estado de vida social, buscando compreender entre outros aspectos a hostilidade diante das relações, e serve como reflexão para compreendermos a origem de muitas vezes nos comportarmos de forma a nos assustarmos com a nossa própria maneira e capacidade de ser.

 

Freud neste texto desdobra também a ideia do horror diante de atitudes proibidas onde ele observa regras incongruentes diante da ambivalência, mostrando que ao mesmo tempo que amamos podemos odiar.

 

Totem e Tabu é um texto sobre a humanização, uma edição mítica que é reeditada por cada um de nós no momento edipiano, momento este que temos que lidar com nossas hostilidades, com nossa condição de sujeitos humanos e simbólicos, que temos que nos reescrever num mundo social com regras, e que a partir do bom ou mau uso delas, dizemos quem somos e o que pretendemos.

 

O homem sempre buscou formas em que possa tornar compreensível sua vivência, tendo os mitos, as religiões e a ciência como representantes de alteridade na forma como ele organiza e fornece o sentido de compreensão à experiência humana, e na relação entre o eu e o outro, reconhece neste modo de ser, o primeiro passo para a formação de uma sociedade justa, equilibrada, democrática, tolerante, onde todos possam se expressar de forma a acrescentar, respeitando e sendo respeitado sobretudo nas diferenças.

 

Um indivíduo elegante pode e deve saber o que se passa no mundo das artes, da literatura, da música, dos espetáculos, das viagens, da gastronomia, para assim saber-se diante de si e do outro, mas nunca para hostilizar a falta de conhecimento do outro, até porque, talvez o outro não saiba porque não teve acesso, e nunca porque não quis.

 

Com o advento da internet, o espaço das diferenças possibilitou encurtar o acesso ao conhecimento, e hoje podemos entrar em qualquer exposição, em qualquer museu, sem que precisemos gastar um centavo. A elegância não é esnobismo ou arrogância: é antes de tudo saber se comportar de forma simples por isto sofisticada, tendo uma sabedoria discreta perante a vida, sendo capaz de deixar o outro confortável por ser diferente, por ter menos, por saber menos. Elegância é a sutil arte de saber combinar simplicidade, educação e discrição.

 

Estamos vivendo "tempos sem elegância", o tempo do olho por olho, sem espaço para a manutenção da convivência entre os povos, entre as classes, sem tempo para pensarmos o outro, para nos comportarmos diante do outro com clareza. Onde será que iremos chegar?

 

Coco Chanel dizia: "Não é a aparência, é a essência, não é o dinheiro, é a educação, não é a roupa, é a classe": viva a sutileza da simplicidade, a singela elegância.

 

Em tempo, este texto foi escrito ao som da música: "Moonglow" com Tony Bennett, k.d. lang.

 

A autora é responsável pelas páginas Cinema e Arte no Divã, Auguri Humanamente. Psicóloga Clínica, Psicanalista, especialista pela USP- Departamento de Psicologia. www.claudiazogheib.com.br

 

 

Referência Bibliográfica


Totem e tabu: algumas correspondências entre a vida psíquica dos selvagens e a dos neuróticos
Sigmund Freud; tradução do alemão de Renato Zwick; revisão técnica e prefácio de Paulo Endo;

ensaio bibliográfico de Peulo Endo e Edson Sousa. - Porto Alegre, RS; L&PM, 2013

 

 


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