Março/2025 Psicologia/Processo de Cura
O papel do Diagnóstico
no Processo de Cura
Com a contribuição da Live de Juliana
e do curta-metragem com o Pateta
Quando um sintoma se apresenta, a saúde (bem estar) está ameaçada. A ameaça ativa o medo: lutar ou fugir? Lutar é iniciar um processo de cura, que se inicia pela busca de um diagnóstico, para eliminar a ameaça ao nosso bem estar.
Pensamentos e Perguntas associados aos sintomas: “O que será que eu tenho?”, “Como posso me livrar desse sintoma?”, “A quem devo procurar?”, ... “Existe uma pílula mágica para acabar de vez com esse sintoma?”
Propomos uma reflexão sobre o conceito de diagnóstico. Em especial considerando que ele é um ponto de partida para a definição do tratamento, que é uma das partes do processo de cura.
Espero que o Pateta nos ajude aqui
Evoquei o Pateta em 19 de março de 2025, quando participei da Live ministrada pela Juliana Lima Bezerra, psicóloga, terapeuta reichiana membro da equipe de coordenação do Núcleo de Psicoterapia Reichiana/RJ e Psicóloga Escolar. O título da sua palestra foi "Superando limitações do diagnóstico caracterológico". Algumas das notas que fiz durante a apresentação fazem parte do conteúdo deste informe.
A recordação da animação da Disney, de 30 de junho de 1950, Motor Mania, com o Pateta, me ajudou a compreender o que a Juliana estava nos ensinando.
Neste curta-metragem, Goofy tem uma segunda personalidade que aparece quando ele entra em seu carro e está prestes a começar a dirigi-lo; sua segunda personalidade o transforma num motorista muito perigoso.
Clique no link para assistir à animação.
O processo de Cura
O que queremos dizer quando afirmamos: “Estou curado?”.
A cura é um estado? Um estado de bem-estar? Estar curado é estar com boa saúde? Saúde é ausência de doença? Saúde é bem-estar? O que é bem-estar?
“O processo de cura é uma jornada que envolve a recuperação de lesões, doenças ou feridas emocionais. É um aspecto fundamental da vida humana.”
Concordo com a ideia de que este processo é uma busca permanente da boa saúde. Cuidar da saúde é como cuidar de uma planta que ornamenta nossa sala. Cuidar todo dia, com atenção, com carinho e dedicação.
Sintomas são sinais do corpo que avisam: "A Saúde não está bem!". Eles nos colocam em movimento para buscar um diagnóstico e nos manter atentos à qualidade da saúde. Porém, não é o diagnóstico, mas o processo de cura que gera a boa saúde, o estado de bem-estar, conforme define a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Diagnóstico e suas consequências
Para a finalidade deste informe, diagnóstico é o resultado da análise de um conjunto de sintomas, que aponta uma classificação ou categoria, usualmente descrita em Manuais de Diagnóstico, como o CID 10 e o DSM 5.
A classificação é utilizada pelos profissionais da saúde para nomear a doença (patologia ou transtorno mental). Ela dá início ao processo de determinação do tratamento a ser aplicado. A definição do tratamento é consequência do processo de avaliação ou do protocolo associado à classificação. Pode ser uma consulta única ou envolver outros profissionais. Exames laboratoriais, testes psicológicos, avaliações neuropsicológicas, avaliações psiquiátricas e avaliações do ambiente em que o paciente está inserido podem ser necessários.
Podemos observar no mundo dos fatos, que o resultado de uma consulta a um profissional da saúde é uma classificação da doença, que determina o protocolo pré-estabelecido cientificamente para o tratamento da “doença”. Isto se explica muito mais pelas razões econômicas e políticas públicas que determinam os recursos alocados para os serviços de saúde, do que pelas melhores práticas de atendimento e tratamento.
Haveria outra forma de lidar com os sintomas?
Estimulamos nossos leitores e pacientes a considerar o que propõe o livro “A doença como caminho”, já citado em outros informes.
Um exemplo: O Caso Borboleta Azul
Diagnóstico dos Transtornos Mentais
Oficialmente, a referência certificada para a classificação de doenças mentais é composta por dois Manuais de Diagnóstico: o CID e o DSM.
“A Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) é uma ferramenta para registrar, notificar e agrupar condições e fatores que influenciam a saúde. Contém categorias para doenças e distúrbios, condições relacionadas à saúde, causas externas de doença ou morte, anatomia, atividades, medicamentos, vacinas e muito mais. O objetivo da CID é permitir o registro sistemático, a análise, a interpretação e a comparação dos dados de mortalidade e morbidade coletados nos diferentes países ou regiões e em diferentes momentos. ... a implementação e a utilização da revisão mais recente da CID em todos os Estados-Membros são legalmente exigidas pelo Regulamento de Nomenclatura Internacional da OMS e reiteradas com as revisões da CID adotadas pela Assembleia Mundial da Saúde.”
“O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM), da American Psychiatric Association [Associação Americana de Psiquiatria], é uma classificação de transtornos mentais e critérios associados elaborada para facilitar o estabelecimento de diagnósticos mais confiáveis desses transtornos. Com sucessivas edições ao longo dos últimos 60 anos, tornou-se uma referência para a prática clínica na área da saúde mental. Devido à impossibilidade de uma descrição completa dos processos patológicos subjacentes à maioria dos transtornos mentais, é importante enfatizar que os critérios diagnósticos atuais constituem a melhor descrição disponível de como os transtornos mentais se expressam e podem ser reconhecidos por clínicos treinados. O DSM se propõe a servir como um guia prático, funcional e flexível para organizar informações que podem auxiliar o diagnóstico preciso e o tratamento de transtornos mentais. Trata-se de uma ferramenta para clínicos, um recurso essencial para a formação de estudantes e profissionais e uma referência para pesquisadores da área.”
CID e DSM são elaborados por equipes multidisciplinares de profissionais da saúde, com base em pesquisas científicas que partem da mesma base conceitual, portanto similares.
Considerando os últimos 150 anos da CID e os 60 anos do DSM, os critérios de diagnóstico foram deixando de ser mais subjetivos e passaram a ser mais objetivos, priorizando a perspectiva biomédica.
O desenvolvimento de medicações psiquiátricas tem um papel relevante neste processo, assim como o interesse da Indústria Farmacêutica. Neste sentido, diagnóstico e tratamento podem estar associados ao uso de fármacos (medicamentos).
É razoável considerar que o tratamento evoca a ideia da pílula mágica.
Para muitas pessoas: "Quando a medicação não funciona, é que devemos considerar um processo psicoterapêutico".
Vale a pena registrar que há uma discussão internacional em curso sobre diagnóstico por categorias ou classificação.
Nesta discussão, procura-se levar em conta as dimensões sugeridas pelo Modelo Big 5: conscienciosidade, abertura a novas experiências, extroversão, amabilidade e neuroticismo. O tratamento – e não o diagnóstico – seria o resultado da análise dinâmica e sistêmica dessas dimensões.
Tratando-se de Transtornos Mentais, deve-se considerar que a subjetividade da pessoa é muito mais importante que seus sintomas ou traços de caráter.
O diagnóstico pode ser um estigma?
Observamos na clínica psicológica que, muitas vezes e para muitos pacientes, a resposta é sim: o diagnóstico funciona como um estigma.
As frases a seguir estão associadas ao estigma: “Ele é ansioso”; “Ela é bipolar”; “Vive deprimido”; “Tem TDAH”; “Tem TOC”; “Coitadinho, é autista”; “Só posso ser louco”, uma das mais utilizadas na clínica psicológica. De forma perversa, estas frases são utilizadas pela indústria dos medicamentos em suas campanhas de venda, muitas vezes apoiadas pela mídia de massa.
Quando os sintomas nos levam a considerar loucura, a arte pode ser a melhor terapia, como nos mostra Moacyr Franco, interpretando Balada para um Louco .
Voltando ao Pateta ...
O Pateta é o Senhor Walker ou o Senhor Willian?
O Pateta teria um Transtorno de Múltiplas Personalidades, ou sua personalidade oculta só aparece quando conduz o seu carro?
Qual deveria ser o diagnóstico para o Pateta?
E, o mais importante ... Qual seria o tratamento adequado para o transtorno mental do Pateta?
E nas sessões de Psicoterapia ...
Quando um paciente agenda uma consulta a um outro profissional da saúde, proponho que se prepare para a consulta. Deve levar em conta e tornar parte da consulta os seguintes questionamentos:
Quais foram os critérios que determinaram o diagnóstico?
Se medicamentos forem prescritos:
- Foram consideradas suas possíveis reações alérgicas e efeitos da combinação com outros medicamentos que já estão sendo utilizados.
- Qual é a finalidade de cada um dos medicamentos?
- A que efeitos colaterais se deve estar atento?
Qual é o prazo esperado para que os sintomas mudem e qual é a mudança esperada?
O tratamento se resume ao que foi prescrito ou haverá outros tratamentos adicionais?
Neste momento, qual é o prognóstico?
Quais são as recomendações para o período pós-remissão da doença?
Quando devo retornar para uma avaliação?
Referência bibliográfica:
CID 10 - Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento
CID-10 - Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas
Editora ArtMed, 1ª EDIÇÃO – 1993 – Autor: World Health Organization
DSM V - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
DSM-5 / [American Psychiatric Association ; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento ... et al.] ; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli ... [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014.
A Doença Como Caminho: uma visão nova da cura como ponto de mutação em que um mal se deixa transformar em bem
Dahlke, Rüdiger e Dethlefsen, Thorwald;– São Paulo ; Cultrix; 1a. Edição; 1992
A Doença Como Linguagem da Alma
Dahlke, Rüdiger; São Paulo ; Cultrix; 1a. Edição; 1999
O Caso Borboleta Azul: Hérnia de Disco Lombar Extrusa e e Leucemia Mieloide Aguda
Informe Maio/2024
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